sexta-feira, 2 de junho de 2017

Especial - Carnaval de São Paulo - Acadêmicos do Tatuapé

Quem sua a camisa todo o ano para colocar as escolas de samba na avenida? Confira o especial CARNAVAL DE SÃO PAULO - HISTÓRIAS DE QUEM FAZ A FESTA ACONTECER.

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Só conhece o carnaval quem vive o carnaval

Por Mábily Regina e Yan Cruz*

Destaque do último desfile 2017 / Foto http://sasp.com.br/



O toque duplo da sirene anuncia que a Unidos de Vila Maria ultrapassou metade da passarela. A Acadêmicos do Tatuapé caminha para a concentração, Celsinho puxa o esquenta da bateria.  Victor Alves Celso Wanderley, 24, ritmista e tocador de surdo de segunda, cheio de superstição, beija o instrumento antes de se juntar ao batuque.

O esquenta cessa, o terceiro toque vem mais longo e anuncia: a avenida está livre. Em cinco minutos a Acadêmicos do Tatuapé vai tomá-la com o enredo Mãe-África, tema do desflie de 2017.

Victor raiou no horizonte com o surdo, cruzou a linha amarela com pé direito, seguindo o ritual da sorte. Bate o tambor, deixa girar (link com o letra) e com ele a bateria ganha a passarela. Meu samba hoje vai exaltar (link com o letra) e a escola conquista o sambódromo. Nosso ritmista termina com a certeza que volta para o desfile das campeãs: "Não senti nada parecido até hoje", relembra, eufórico.

"O samba me educa, sem exagero", admite o ritmista que frequentava os ensaios técnicos desde a infância e aos 22 anos ingressou na Tatuapé. A relação com a música é estreita: "Para mim é quase como ar", declara.

Raiou... No horizonte meu destino...

O ano era 1952. Guerra Fria, Getúlio Vargas como Presidente do Brasil e data do nascimento do Grêmio Recreativo Acadêmicos do Tatuapé. O que era uma roda de samba entre amigos tornou-se uma das grandes comunidades do carnaval. A Tatuapé, antes chamada de Unidos de Vila Isabel, seu bairro de origem, nasceu em 26 de outubro através de Oswaldo Vilaça, o Mala, e seus amigos.

Mala costumava ajudar a Império Serrano, no Rio de Janeiro, com a criação dos enredos. Enquanto isso, na terra da garoa, a escola já fazia história em rodas de samba na Praça da Sé, com batuque e alegria. Com a mudança de sede, também o nome: Acadêmicos do Tatuapé. Venceram nos grupos I, II, III e de Acesso, desde o nascimento até 2010. E em 2017, finalmente, a grande vitória.

Dizem que o primeiro a gente nunca esquece. Primeiro dia de aula, primeiro beijo ou até a primeira ressaca. Para azul e branco, cores da escola, o primeiro título: campeã do carnaval paulista de 2017.

Um canto livre de amor... Vejo meus filhos trilhando caminhos com a proteção de obatalá 

Quem assiste ao exuberante desfile pode até pensar que é sempre assim, mas não se engane, para chegar até ali a estrada foi longa, árdua e disciplinada. "Durante os ensaios há muita cobrança, ensaios separados de cada instrumento. É bem puxado", admite Victor, que além de ritmista é motorista de Uber. Quando chega o grande dia, a equipe está confiante de que fez o seu melhor. É esse o sentimento por trás da euforia contagiante que trouxe o tão esperado título.

Seja por amor à escola ou ao carnaval, a Acadêmicos é uma segunda família para muitos. Samara Trovão, 23, e Renata Trovão, 46, são mãe e filha e desfilaram na escola em 2017. “Gosto do clima família, da acolhida. Todos se unem por um bem-estar comum”, conta Renata, que desfilou junto com a primogênita Samara, porta-bandeira da Ala 6. O clima nos ensaios contagia a todos: “A alegria chega até em quem vai só para assistir, é total alto astral!”, destaca a Trovão mais jovem.

Samara explica que sua ala deve manter o ritmo e o alinhamento, para todos ficarem em sintonia. Antes de chegar na Tatuapé, ela passou pela Morro da Casa Verde e fez um curso de porta-bandeira. Por ironia do destino, sua professora e madrinha de categoria era a porta-bandeira oficial da Tatuapé. A paixão pelo samba é grande, apesar das dificuldades, como o fato das fantasias pesarem até 20kg. “São pesadas e desconfortáveis, sempre saio com algum machucado por causa dela. Mas a emoção e a alegria de fazer parte disso são maiores e vale a pena”, assume.

O tom das palavras é intenso ao relembrar o último desfile. De angústia e de alegria. Semanas antes do carnaval, ela teve um acidente com vidro. Passou por duas cirurgias e ficou internada por doze dias. Na segunda-feira anterior ao grande dia, teve alta. E a expectativa? Conseguir participar com a Tatuapé. Ela e a mãe, Renata, fizeram manobras digna do MacGyver para disfarçar as ataduras, e no fim desfilaram juntas. “Estar na Tatuapé é uma emoção sem igual,  antes sempre fico ansiosa e nervosa. Depois que passa, o coração enche de alegria. Dever cumprido e gostinho de quero mais”, descreve, ansiosa pelo próximo.

Os torcedores não ficam atrás no quesito paixão pela samba. Ana Caroline dos Santos, 29, não desfila e nem é membro da Tatuapé, mas bate cartão nos ensaios e torce fielmente perto ou longe do sambódromo. “É um ambiente familiar, também levo meus filhos lá”. Ela acredita que, independente de onde estiver assistindo, o importante é transmitir vibrações positivas: “Quando a bateria passa a emoção aumenta, chega até arrepiar!”.

Orgulho, alegria e excitação são poucas palavras para descrever o brilho no olhar de quem viveu o momento e hoje conta a história. Ana assistiu à apuração em casa e não segurou a voz pelo restante do dia.

A realeza estampada na pele, coroada num só coração

Depois da vitória de 2017, a mudança é inegável. Pessoas saem, outras entram. Wagner Santos é um deles. Anunciado como o novo carnavalesco da Acadêmicos do Tatuapé em abril desse ano, ele traz altas expectativas na bagagem, nada amadora. Passou pela Mocidade Alegre por três anos, Unidos de Vila Maria por nove anos e Acadêmicos do Tucuruvi nos últimos oito anos.

Ele completa 20 carnavais em 2018 e se orgulha de entrar no time do Grêmio Recreativo Acadêmicos do Tatuapé. “É um namoro antigo, que vem rolando há muitos anos e agora assumimos para o samba paulista”, brinca, com tom nostálgico, destacando que seu amor pela profissão vem desde o nascimento dele, Dia de Carnaval. "Existe um amor por esta data dentro de mim que não sei explicar".

Experiente no samba, novato na escola, Wagner não esconde o encantamento: “O clima é de uma grande família que quer ser bicampeã do carnaval de São Paulo. E com certeza seremos!”, anuncia. Sua voz é de uma confiança impressionante, como quem sabe (muito) bem do que está falando. "O melhor de estar na Tatuapé é saber que você está numa escola que tem parceiros, pessoas com quem você pode", diz orgulhoso.

A conquista, para ele, será inédita, pois nas outras agremiações chegou apenas ao vice-campeonato. “Ensinei, aprendi e juntos fizemos grandes apresentações, mas nunca fomos campeões”, conta. “É um sonho que vamos realizar em 2018”.

"Maranhão: os tambores vão ecoar na terra da encantaria" é a nova aposta da Tatuapé, e homenageia a terra natal de Wagner: "Tenho um grande orgulho em ser maranhense, falar da minha gente, da minha cultura, da minha terra, do meu povo. Vai ser um carnaval maravilhoso porque a diversidade desse estado é fantástica. Foi um presente pra mim", ressalta, agradecendo o convite que o trouxe à Tatuapé. "O mais importante é fazer coisas boas para estar na memória daqueles que vão dar continuidade ao que você começou lá na frente".

Mais que um título, uma grande família. Torcedores, membros e dirigentes são parte de um todo. A Tatuapé é feita de uma família, para outra. São as experiências vividas, as amizades que você faz. Quem entende, reafirma: só conhece o carnaval quem o vive.

*ESPECIAL CARNAVAL DE SÃO PAULO - PERFIS, produzido pela turma do terceiro semestre matutino de Jornalismo na disciplina Jornalismo Cultural. Leia mais: Império da Casa Verde
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Este blog é uma versão teste e provisória do Fapcomunica Online, jornal laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação

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