quarta-feira, 29 de novembro de 2017

China, nosso parceiro do futuro?

Novos rumos da economia mundial podem contribuir para tornar a China e o BRICS nosso maior parceiro estratégico

Por Mario Tadeu


Charles Tang, presidente CCIBC - Foto: Divulgação


A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA gerou incertezas para a economia mundial, mas afetou ainda mais o Brasil que, desde os anos 70 do século passado, vive o dilema entre manter os EUA como principal parceiro estratégico da economia ou abrir novos mercados que possam quebrar a dependência que essa relação político-econômica acarreta.

Charles Tang, da CCIBC – Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, é um dos principais construtores da forte parceria que vem trazendo investimentos chineses para o País. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil e vem se constituindo numa das principais fontes de investimento. A corrente de comércio Brasil-China ampliou-se de forma marcante entre 2001 e 2015 – passando de US$ 3,2 bilhões para US$ 66,3 bilhões. Em 2009, a China passou a figurar não apenas como maior mercado comprador das exportações brasileiras, mas também como principal parceiro comercial do Brasil, pelo critério do fluxo de comércio. Em 2012, a China tornou-se também o principal fornecedor de produtos importados pelo Brasil.

A China figura entre as principais fontes de investimento estrangeiro direto no Brasil, com destaque para os setores de energia e mineração, siderurgia e agronegócio. Tem-se observado, também, diversificação dos investimentos chineses no país para segmentos como telecomunicações, automóveis, máquinas, serviços bancários e infraestrutura. Há importantes investimentos brasileiros na China, em setores como aeronáutico, mineração, alimentos, motores, autopeças, siderurgia, papel e celulose, e serviços bancários.

Em contrapartida, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tendo o fluxo de comércio bilateral superado US$ 46 bilhões em 2016. Os EUA são o principal destino de exportação de produtos brasileiros manufaturados e semimanufaturados: cerca de 75% da pauta exportadora brasileira para os norte-americanos. De acordo com dados do Banco Central, os Estados Unidos continuam a ser o país com maior volume de investimento externo direto no Brasil, com estoque no valor de US$ 116 bilhões, até 2013 (último dado disponível). Já o estoque de investimentos diretos brasileiros nos EUA cresceu de US$ 7,3 bilhões em 2009 para US$ 22,4 bilhões em 2014 (último dado disponível). Os fluxos têm-se tornado mais equitativos, não porque os investimentos norte-americanos decaíram, mas porque os investimentos brasileiros cresceram em ritmo mais acelerado – em 2000, para cada dólar investido nos EUA por empresas brasileiras, cerca de 47 dólares eram investidos no Brasil por empresas norte-americanas; em 2014, essa razão caiu para três dólares de empresas norte-americanas para cada dólar investido por empresas brasileiras.

Fecomercio SP - Investimentos chineses na América do Sul, por Yuning Gao

Qual parceiro comercial é estratégico para o Brasil?

No século XXI empresários brasileiros têm sido um pouco frustrados com o que o Financial Times descreveu como um "ritmo lento" do desenvolvimento de alguns aspectos do relacionamento entre os dois países. Por exemplo, o Brasil reconheceu oficialmente a China como uma economia de mercado em 2004, mas em 2009 as alterações correspondentes em acordos comerciais não haviam sido implementadas. Isso se explica pelo dilema brasileiro de definir seu real papel na economia globalizada. O vínculo brasileiro comercial com o EUA, apesar da independência conquistada ao longo dos anos, ainda é muito enraizado. O Brasil ainda busca analisar qual parceria é mais vantajosa para nosso futuro e economia.


Interesses econômicos e geopolíticos da China

A China é a segunda maior economia global, com um PIB de 10,33 trilhões de dólares (apenas atrás dos Estados Unidos) e uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas – a maior população do mundo- e uma das maiores potências bélicas do planeta. Com todo esse poderio, os chineses têm buscado um papel cada vez mais estratégico na geopolítica global. A iniciativa de formar uma Nova Rota da Seda faz parte dos planos do país de aumentar ainda mais a presença e a participação chinesa no mundo. Porém, quais outros fatores poderiam estar levando o país a isso? Uma das hipóteses é o do excesso de produção da indústria chinesa, cujo mercado interno não consegue mais absorver. Buscar alianças estratégicas com países da região poderia aumentar consideravelmente o mercado consumidor dos seus produtos. Ademais, precisariam investir o capital acumulado no país durante os anos de crescimento econômico de modo a preservar e aumentar o valor dos seus investimentos.

Os interesses chineses na Nova Rota da Seda estão ligados à desaceleração da economia do país, mas também para contrapor a posição hegemônica dos Estados Unidos na Ásia. A disputa entre as duas maiores economias do mundo acirrou-se após o surgimento da Parceria Transpacífico, que incluía 12 países do continente asiático, com exceção da China. Além disso, o aumento no valor dos salários tem diminuído a vantagem comparativa das indústrias chinesas. Portanto, da mesma maneira que o Japão e os países dos Tigres Asiáticos, as fábricas da China tendem a se transferir para países mais pobres da região, cuja mão de obra seja mais barata.

Contudo, esse projeto enfrenta alguns problemas para ser posto em prática. Um exemplo vem do Corredor Econômico China-Paquistão (em inglês, CPEC), acordo assinado em abril de 2015. Esse projeto inclui iniciativas nas áreas de energia e transporte, além da parceria na construção de um porto de águas profundas que ofereceria um acesso direto ao Oceano Índico. Todas as ações dentro do CPEC terão um custo de cerca de 46 bilhões de dólares. Os desafios que acompanham esse projeto vêm principalmente, mas não unicamente, do lado paquistanês. Há problemas relacionados com os conflitos internos envolvendo o Talibã, além de uma certa oposição política interna à iniciativa chinesa. Do lado da China, tem a questão do conflito entre o governo e o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental.

Nova Rota da Seda

Inicialmente anunciada oficialmente em 2013, não é apenas um projeto que envolve vias terrestres. Pelo contrário, também engloba o comércio marítimo, principalmente com países do Sudeste Asiático, formando um cinturão comercial e econômico ligando toda a região da Eurásia, desde Portugal até a Malásia, incluindo também o continente africano. O projeto visa integrar os diferentes países em cinco áreas distintas: coordenação política, construção de infraestrutura, comércio desimpedido, integração financeira e laços de pessoa a pessoa. Dentre essas áreas, a que mais tem se destacado é a de construção de infraestrutura, em um investimento de cerca de 40 bilhões de dólares para a construção de oleodutos, cabos de fibra ótica, ferrovias e rodovias que atravessarão todo o território da Ásia Central. Além disso, foi criado o Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento, com a participação de outros 57 países, com um capital inicial de aproximadamente 50 bilhões de dólares. Dentre os países que ajudaram na criação do banco estão antigos aliados dos Estados Unidos, como o Reino Unido, a França e a Inglaterra. Mais de 50 Estados demonstraram interesse em participar dessa iniciativa, de acordo com a China. Com isso, o país busca formar uma comunidade econômica e comercial que possa servir aos interesses da economia chinesa.

Porém, o que tem norteado o governo chinês a investir nesse audacioso projeto? Para isso, precisamos entender um pouco sobre como a China tende a se relacionar com o mundo.

BRICS - Aposta brasileira em um bloco que rompe o isolamento econômico

O economista Jim O’Neill, em 2001, criou a sigla Bric para designar as economias que mais deveriam crescer no futuro. O’Neil previu que as economias emergentes cresceriam a taxas mais aceleradas do que as maiores economias do mundo. Em 2011 a África do Sul se juntou ao grupo, quando a sigla foi atualizada para o Brics atual.

O Brasil olha o bloco como uma oportunidade de abrir sua economia para mercados onde sua participação é pequena, porém, mais uma vez, isso atrela o futuro a China, a mais forte economia do grupo. O Jornal The Economist publicou uma análise apontando que os BRIC (sem África do Sul) estão crescendo no mesmo ritmo pela primeira vez desde o surgimento do grupo. Isso contribui ainda mais para o dilema brasileiro de qual caminho seguir, ou aposta neste novo modelo ou volta a segurança passiva de parceria com EUA e Europa.

“O problema mais complicado para o conceito BRIC pode ser a sua consoante final. A China contribuiu com cerca de metade do PIB do clube em 2001 e agora representa dois terços completos. A China também abriga a maioria das maiores empresas do grupo. Oito das dez maiores ações do índice MSCI BRIC são da China, incluindo Alibaba, Baidu e Tencent (um trio tecnológico que tem seu próprio acrônimo BAT). À medida que seus mercados crescem e se abrem para entradas de capital, a China parece destinada a se tornar uma classe de ativos por direito próprio, que é difícil de conter em um fundo de mercado emergente "holístico", e muito menos um veículo de quatro países mais estreito. A maior ameaça à ideia BRIC pode não ser as falhas econômicas do quarteto, mas o sucesso singular de seu maior membro.” Fonte: The Economist

Perspectivas

A retração dos EUA em fóruns e organizações internacionais com à eleição de Donald Trump abriu um espaço para as economias emergentes. O futuro será ditado pela forma como os BRICS irão aproveitar essa oportunidade.

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