Novos rumos da economia mundial podem contribuir
para tornar a China e o BRICS nosso maior parceiro estratégico
Por Mario Tadeu
Por Mario Tadeu
Charles Tang, presidente CCIBC - Foto: Divulgação |
A eleição de Donald
Trump como presidente dos EUA gerou incertezas para a economia mundial, mas afetou
ainda mais o Brasil que, desde os anos 70 do século passado, vive o dilema entre
manter os EUA como principal parceiro estratégico da economia ou abrir novos
mercados que possam quebrar a dependência que essa relação político-econômica acarreta.
Charles Tang, da
CCIBC – Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, é um dos principais
construtores da forte parceria que vem trazendo investimentos chineses
para o País. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial
do Brasil e vem se constituindo numa das principais fontes de investimento.
A corrente de comércio Brasil-China ampliou-se de forma marcante entre 2001 e 2015
– passando de US$ 3,2 bilhões para US$ 66,3 bilhões. Em 2009, a China passou a figurar
não apenas como maior mercado comprador das exportações brasileiras, mas também
como principal parceiro comercial do Brasil, pelo critério do fluxo de comércio.
Em 2012, a China tornou-se também o principal fornecedor de produtos importados
pelo Brasil.
A China figura entre as principais fontes
de investimento estrangeiro direto no Brasil, com destaque para os setores de energia
e mineração, siderurgia e agronegócio. Tem-se observado, também, diversificação
dos investimentos chineses no país para segmentos como telecomunicações, automóveis,
máquinas, serviços bancários e infraestrutura. Há importantes investimentos brasileiros
na China, em setores como aeronáutico, mineração, alimentos, motores, autopeças,
siderurgia, papel e celulose, e serviços bancários.
Em contrapartida, os Estados Unidos são
o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tendo o fluxo de comércio bilateral
superado US$ 46 bilhões em 2016. Os EUA são o principal destino de exportação de
produtos brasileiros manufaturados e semimanufaturados: cerca de
75% da pauta exportadora brasileira para os norte-americanos. De acordo com dados do Banco Central,
os Estados Unidos continuam a ser o país com maior volume de investimento externo
direto no Brasil, com estoque no valor de US$ 116 bilhões, até 2013 (último dado
disponível). Já o estoque de investimentos
diretos brasileiros nos EUA cresceu de US$ 7,3 bilhões em 2009 para US$ 22,4 bilhões
em 2014 (último dado disponível). Os fluxos têm-se tornado mais equitativos, não
porque os investimentos norte-americanos decaíram, mas porque os investimentos brasileiros
cresceram em ritmo mais acelerado – em 2000, para cada dólar investido nos EUA por
empresas brasileiras, cerca de 47 dólares eram investidos no Brasil por empresas
norte-americanas; em 2014, essa razão caiu para três dólares de empresas norte-americanas
para cada dólar investido por empresas brasileiras.
Fecomercio SP - Investimentos chineses na América do Sul, por Yuning Gao
Qual parceiro comercial é estratégico para o Brasil?
No século XXI empresários brasileiros
têm sido um pouco frustrados com o que o Financial Times descreveu como um
"ritmo lento" do desenvolvimento de alguns aspectos do relacionamento
entre os dois países. Por exemplo, o Brasil reconheceu oficialmente a China como
uma economia de mercado em 2004, mas em 2009 as alterações correspondentes em acordos
comerciais não haviam sido implementadas. Isso se explica pelo dilema brasileiro
de definir seu real papel na economia globalizada. O vínculo brasileiro comercial com o
EUA, apesar da independência conquistada ao longo dos anos, ainda é muito enraizado.
O Brasil ainda busca analisar qual parceria é mais vantajosa para nosso futuro e
economia.
Interesses econômicos
e geopolíticos da China
A China é a segunda maior economia
global, com um PIB de 10,33 trilhões de dólares (apenas atrás dos Estados
Unidos) e uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas – a maior população do
mundo- e uma das maiores potências bélicas do planeta. Com todo esse poderio, os
chineses têm buscado um papel cada vez mais estratégico na geopolítica global. A
iniciativa de formar uma Nova Rota da Seda
faz parte dos planos do país de aumentar ainda mais a presença e a participação
chinesa no mundo. Porém, quais outros fatores poderiam estar levando o país a isso?
Uma das hipóteses é o do excesso de produção da indústria chinesa, cujo mercado
interno não consegue mais absorver. Buscar alianças estratégicas com países da região
poderia aumentar consideravelmente o mercado
consumidor dos seus produtos. Ademais, precisariam investir o capital acumulado
no país durante os anos de crescimento econômico de modo a preservar e aumentar
o valor dos seus investimentos.
Os interesses chineses na Nova Rota da Seda estão ligados à desaceleração
da economia do país, mas também para contrapor a posição hegemônica dos Estados
Unidos na Ásia. A disputa entre as duas maiores economias do mundo acirrou-se após
o surgimento da Parceria Transpacífico, que incluía 12 países do continente asiático,
com exceção da China. Além disso,
o aumento no valor dos salários tem diminuído a vantagem comparativa das indústrias
chinesas. Portanto, da mesma maneira que o Japão e os países dos Tigres Asiáticos,
as fábricas da China tendem a se
transferir para países mais pobres da região, cuja mão de obra seja mais barata.
Contudo, esse projeto enfrenta alguns
problemas para ser posto em prática. Um exemplo vem do Corredor Econômico China-Paquistão
(em inglês, CPEC), acordo assinado em abril de 2015. Esse projeto inclui iniciativas nas áreas de energia
e transporte, além da parceria na construção de um porto de águas profundas que
ofereceria um acesso direto ao Oceano Índico. Todas as ações dentro do CPEC terão
um custo de cerca de 46 bilhões de dólares. Os desafios que acompanham esse projeto
vêm principalmente, mas não unicamente, do lado paquistanês. Há problemas relacionados
com os conflitos internos envolvendo o Talibã, além de uma certa oposição política
interna à iniciativa chinesa. Do lado da China, tem a questão do conflito entre o governo e o Movimento Islâmico
do Turquestão Oriental.
Nova Rota da Seda
Inicialmente anunciada oficialmente em
2013, não é apenas um projeto que envolve vias terrestres. Pelo contrário, também
engloba o comércio marítimo, principalmente com países do Sudeste Asiático, formando
um cinturão comercial e econômico
ligando toda a região da Eurásia, desde Portugal até a Malásia, incluindo também
o continente africano. O projeto visa integrar os diferentes países em cinco áreas
distintas: coordenação política, construção de infraestrutura, comércio desimpedido,
integração financeira e laços de pessoa a pessoa. Dentre essas áreas, a que mais
tem se destacado é a de construção de infraestrutura, em um investimento de cerca
de 40 bilhões de dólares para a construção
de oleodutos, cabos de fibra ótica, ferrovias e rodovias que atravessarão todo o
território da Ásia Central. Além disso, foi criado o Banco Asiático de Infraestrutura
e Investimento, com a participação de outros 57 países, com um capital inicial de
aproximadamente 50 bilhões de dólares.
Dentre os países que ajudaram na criação do banco estão antigos aliados dos Estados
Unidos, como o Reino Unido, a França e a Inglaterra. Mais de 50 Estados demonstraram
interesse em participar dessa iniciativa, de acordo com a China. Com isso, o país busca formar uma
comunidade econômica e comercial
que possa servir aos interesses da economia chinesa.
Porém, o que tem norteado o governo chinês
a investir nesse audacioso projeto? Para isso, precisamos entender um pouco sobre
como a China tende a se relacionar
com o mundo.
BRICS - Aposta brasileira em um bloco que rompe o isolamento econômico
O economista Jim
O’Neill, em 2001, criou a sigla Bric para designar as economias
que mais deveriam crescer no futuro. O’Neil previu que as economias emergentes cresceriam a taxas
mais aceleradas do que as maiores economias do mundo. Em 2011 a África do Sul se
juntou ao grupo, quando a sigla foi atualizada para o Brics atual.
O Brasil olha o
bloco como uma oportunidade de abrir sua economia para mercados onde sua
participação é pequena, porém, mais uma vez, isso atrela o futuro a China, a
mais forte economia do grupo. O Jornal The
Economist publicou uma análise apontando que os BRIC
(sem África do Sul) estão crescendo no mesmo ritmo pela primeira vez desde o
surgimento do grupo. Isso contribui ainda mais para o dilema brasileiro de qual
caminho seguir, ou aposta neste novo modelo ou volta a segurança passiva de
parceria com EUA e Europa.
“O problema mais complicado para o conceito
BRIC pode ser a sua consoante final. A China contribuiu com cerca de metade do PIB
do clube em 2001 e agora representa dois terços completos. A China também abriga
a maioria das maiores empresas do grupo. Oito das dez maiores ações do índice MSCI
BRIC são da China, incluindo Alibaba, Baidu e Tencent (um trio tecnológico que tem
seu próprio acrônimo BAT). À medida que seus mercados crescem e se abrem para entradas
de capital, a China parece destinada a se tornar uma classe de ativos por direito
próprio, que é difícil de conter em um fundo de mercado emergente "holístico",
e muito menos um veículo de quatro países mais estreito. A maior ameaça à ideia
BRIC pode não ser as falhas econômicas do quarteto, mas o sucesso singular de seu
maior membro.” Fonte: The Economist
Perspectivas
A retração dos EUA em fóruns e organizações
internacionais com à eleição de Donald Trump abriu um espaço para as economias
emergentes. O futuro será ditado pela forma como os BRICS irão aproveitar essa
oportunidade.
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