segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Educação sexual e o aumento de sífilis no Brasil


A infecção teve números alarmantes divulgados por grandes pesquisadores, mas a principal barreira do Brasil ainda é a falta diálogo sobre sexualidade e formas de prevenção

Por Alyne Cristine                        
                           

A sífilis é causada pela bactéria cientificamente conhecida como Treponema Pallidu, transmitida pelo ato sexual, mas também de mãe para filho, durante a gravidez. Seus sintomas são machucados, indolores e avermelhados na área genital, o que pode deixar tais indícios mais ''escondidos''. No órgão masculino, estes sinais podem ficar em evidência. Há também registros na garganta ou no ânus.

Possui quatro estágios: sífilis primária (feridas); secundária (febre aumento dos gânglios); latente (o paciente não aparenta ter os sintomas e pode viver com a doença sem saber); terciária (pode causar danos aos órgãos) e Neurosífilis (a doença acomete o cérebro ou a medula espinhal). As consequências mais comuns são dores de cabeça, náuseas, vômitos, confusão mental, rigidez na nuca, dificuldade de enxergar ou perda completa de visão. Em bebês, a doença pode ser ainda mais drástica, pois atinge o sistema nervoso central e ocasionar a microcefalia. A sífilis congênita pode causar convulsões, malformações múltiplas, deformidades ósseas, lesões renais e na pele.

O infectologista Gustavo Maia, em entrevista para o site Globo, ressalta dados alarmantes sobre a doença no Brasil: "Estima-se que, a cada ano, cerca de 131 milhões de pessoas são infectadas pela clamídia, 78 milhões pela gonorreia e quase seis milhões pela sífilis, sem contabilizar outras infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, HPV herpes e hepatites virais."




Prazer vs Proteção

O estudante Guilherme Lima, de 21 anos, de São Paulo conta que já foi infectado pela bactéria. Faz tratamento contínuo, já que não tem cura. "Contrai sífilis e candidíase, mesmo realizando exames de rotina a cada três meses. Não faço ideia de quem me passou, foi uma época em que eu fazia muito sexo casual e provavelmente passei isso para outra pessoa sem saber", explica.


Guilherme comparece a consultas com o médico infectologista para realizar exames, porém, o jovem afirma não ter pretensão de realizar sexo oral com preservativo, sendo ainda, um risco que está disposto a correr em nome do prazer. Embora não seja o único, a postura surpreende não só pela sinceridade, como também mostra a cultura em torno do sexo sem proteção, sem preocupação com as consequências.

Em março de 2017, o Ministério da Saúde divulgou dados referentes ao uso da camisinha entre jovens e idosos no país. Apenas 56,6% dos brasileiros entre 15 e 24 anos usam preservativo com eventuais parceiros. Idosos, acima de 65 anos, são 4% a 5% da população que possuem alguma DST, um aumento de 103% nos casos. Os especialistas acreditam que, por estarem aposentados, na melhor idade, idosos acabam se descuidando na hora da proteção. Entre os jovens, a hipótese é que muitos jovens não vivenciaram a epidemia de DSTs, e eventualmente, estão se descuidando por achar que é algo incomum.

O desafio para organizações, escolas e hospitais ainda é informar os riscos de forma efetiva, para que a população, sobretudo jovem, possa compreender a gravidade e as consequências do sexo sem proteção.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em setembro de 2017
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em setembro de 2017, apontam um crescimento de 5,174% de sífilis contraída sexualmente em comparação de 2010 (1.249 casos) a 2015 (65.878 casos). Na forma congênita, de mãe para filho, o aumento foi de 851% na comparação de 2005 (3.508) a 2015 (33.381), como ilustra o gráfico ao lado.

Educação como porta para a responsabilidade sexual

A educação sexual dentro de escolas pode ser uma medida efetiva contra os ditos populares e desinformação. A psiquiatra Carmita Abdu, em entrevista para O Estado de S. Paulo, fala que a educação sexual deve ser discutida dentro de casa, mas, muitas vezes os pais não possuem tato para conversar sobre prevenção e direitos reprodutivos, embora a escola possa tomar partido e procurar formas didáticas de ensinar, visto que é um problema de saúde pública. “Se não existe educação sexual na família, então caberá a escola essa tarefa que é muito importante no desenvolvimento da criança. Quando ela (criança) começa a entrar em contato com a sua sexualidade, ocorre o interesse pelo corpo, pelas funções de cada órgão, entre eles, os órgãos sexuais", explica.



No livro "Adolescentes e Paternidade" (editora Holos), Ellika Trindade e Maria Alves de Toledo falam sobre a problemática existente no Brasil em relação a sexualidade "Em nossa sociedade, a sexualidade não tem sido explorada e/ou dialogada de modo que as pessoas sejam educadas a conhecê-la e aprender que o seu exercício não é feio e pecaminoso, nesse sentido, em uma deseducação sexual. O “não dialogar”, desse modo, facilita a exposição de adolescentes a situações de riscos relacionadas ao exercício da sexualidade, como gravidez indesejada, contágio de infecções sexualmente transmissíveis e traumas psicológicos e emocionais resultantes da vivência de uma sexualidade frustrante", destacam as autoras.

Em matéria realizada pelo BBC Brasil, foi divulgado que nos Estados Unidos, os alunos participantes de aulas sobre sexualidade atrasam sua primeira experiência sexual e tiveram maior probabilidade de usarem camisinha ou outro método anticoncepcional. De acordo com a Unesco, a educação sexual pode levar a um comportamento mais tardio e mais responsável.

Adultos precisam reconhecer que, independentemente da idade, a curiosidade em torno da sexualidade é uma característica presente na vida de todo humano, e as dúvidas dos jovens precisam ser esclarecidas e discutidas, com realidade, respeito e até mesmo criatividade.






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Este blog é uma versão teste e provisória do Fapcomunica Online, jornal laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação

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