Por Maurício Lisner Leal de Menezes
“O mundo progride com a
evolução das pessoas”. Dá para levar para o lado otimista ou para o lado pessimista
essa frase. Quem disse foi a Cleusa, nossa humanista em questão.
Professora universitária,
escritora do blog Gênio Criador (e dona de editora de livro do mesmo nome) e
psicóloga, Cleusa Kazue Sakamoto nasceu em Guarulhos, São Paulo. Despertou sua
atenção aos mistérios da psique humana ainda cedo: uma criança com muitas
perguntas e uma bagagem emocional talhada precocemente.
Aos três anos de idade, sua
irmã de sete anos faleceu.
“Minha tia me disse que papai
do céu tinha chamado minha irmã e perguntou se eu queria vê-la. Fui, porém, não
tenho a cena da minha irmã morta na minha cabeça”, conta a professora,
guardando inocência à lembrança infantil, fragmentada e distante.
Com o falecimento da irmã,
Cleusa não visualizava ainda o significado de morte. Nasceu assim a primeira
questão que veio a tomar mais formato e ser interpretada seis anos depois, com
a morte de sua avó. Elas dormiam no mesmo quarto.
Desta vez, ao contrário da
primeira perda, a psicóloga sentiu maior impacto. Teve medo de ficar no escuro.
Usou o medo para se informar, lendo livros e conversando sobre o assunto.
Ela queria entender quem é o
ser humano, influenciada pela sua curiosidade pelas reações que observou nas
pessoas ao seu redor perante a acontecimentos.
Antes de entrar na faculdade,
se sentia dividida entre três cursos. Jornalismo, porque gostava de escrever.
Educação física, porque foi atleta. Psicologia, porque tinha uma sensibilidade
aguçada e afinidade ao ser humano.
“A melhor coisa do mundo são
as pessoas, mas são a coisa mais difícil também”, diz a professora. Lidar com
seres humanos é reconhecidamente complicado até por quem é especialista nisso.
As questões pessoais e
intelectuais de Cleusa falaram mais alto, então ela ingressou no curso de Psicologia
da Universidade de São Paulo (USP) em 1976, iniciando uma expansão ainda mais
intensa e buscando respostas.
A voz de Cleusa tem um tom de
curiosidade e fascínio até hoje. Como se tudo fosse novo o tempo todo.
Apesar de ter se especializado
e ter encontrado diversas respostas, a psicóloga continua sendo uma forte
adepta do ‘será que’ nas frases. Se perguntar ou refletir sobre algo com
Cleusa, as chances de receber respostas carregadas de novas dúvidas são
enormes. Você provavelmente se sentiria mergulhando em espiral na sua
existência e pouco depois tomaria um café sozinho pensando onde foi que nasceu
alguma questão da sua vida pessoal ou da própria vida em sociedade.
A criança esperta e
questionadora em Cleusa não é recente, mas é sempre atual. Quando era pequena,
sua professora aconselhou aos pais que ela pulasse uma série na escola. Estava
adiantada nos quesitos cognição e sensibilidade de acordo com a faixa etária.
A psicóloga não esconde apreço
às dúvidas e complexidades humanas que pedem por soluções.
Às sextas-feiras, ela reserva
uma hora antes do horário de aulas na FAPCOM (Faculdade Paulus de Tecnologia e
Comunicação) em uma sala para fazer uma roda de conversa com quem quiser
chegar. Pode falar sobre o que quiser. Tema livre que vem a ser um prato cheio
para que os universitários partilhem seus dramas, incômodos e conflitos
pessoais e suas lamentações. Alguns surtados com a rotina de conciliar
trabalho, vida e TCC. Outros decepcionados com problemas de empreendedorismo.
Em um dos encontros semanais,
um universitário que deveria ter por volta de seus 23 anos chegou lamentando
por sua venda de lanches na faculdade não ter dado certo. A roda inteira
escutou e eu próprio caí na tentação de dar uma sugestão, indicando que talvez
vender lanches naturais ou doces caseiros pudesse funcionar melhor.
Provavelmente ele não levou em consideração.
O seu gosto pela profissão da
psicologia, conclui a professora após anos de carreira, é atender pessoas que
tenham interesse real em ser melhores.
Existe uma dúvida quase
folclórica sobre como é viver sendo um psicólogo, já que a vida é feita mais de
relações sociais do que de qualquer outra coisa. Cleusa responde: é normal. “Eu
vivo normalmente. Deus me livre ficar fazendo análises o tempo todo... Seria
muito cansativo!”
Apesar de admitir que não “faz
análise o tempo todo”, Cleusa admite que inconscientemente acaba usando os seus
recursos proporcionados pela experiência com relações humanas: “Às vezes capto
as coisas talvez de forma até não consciente. Ou, às vezes eu bato o olho, até
pelo jeito, já simpatizo”.
O que ela mais gosta na
profissão é de atender diversos tipos de pessoas, que demonstram uma vontade
real de mudar e melhorar. Enquanto quem vê de fora pode pensar que a psicologia
é uma imersão em problemas alheios, Cleusa vê mais como uma imersão no que o
ser humano tem de mais interessante e melhor.
A psicóloga é otimista, mas,
assim como qualquer um, também tem preocupações. Cleusa contou que sente que os
jovens hoje em dia andam um pouco vazios e alienados.
“Eu estou um pouco abalada e
descrente do ser humano. Já conheci muitas pessoas maravilhosas, com uma
espiritualidade incrível e também gente muito ruim. Porém, agora, estou vendo
gente muito vazia. Muita gente do mesmo tipo, descompromissado, vazio de
princípios e muito materialista”, diz Cleusa deixando de lado, dessa vez,
aquele tom de encantamento e fascínio.
O ser humano é um animal que
transcende a biologia, eleva sua complexidade à psicologia. Simplesmente
observar, para quem sabe ver, pode ser um passatempo incrível.
O que você tem observado? Você
já conversou com um psicólogo? Conversar com um psicólogo não é o mesmo de se
consultar com um. Enquanto uma consulta vai falar do seu mundo, uma conversa
vai falar do mundo. Ou melhor, dos mundos.