segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Do gosto pela arte à personalidade maternal

Por Yasmim Pereira

Dizer que Isabel Orestes é Doutora em Comunicação e Semiótica, Mestre em Artes Visuais, Bacharel em Pedagogia e pesquisadora com dezenas de publicações é muito formal. Ainda mais que a maioria dos alunos preferem chamá-la simplesmente por Bel, apelido com apenas três letras e som aconchegante igual à outra palavra reveladora de sua personalidade: mãe. Mesmo com tantos títulos acadêmicos, o lado maternal é marcante. “Nossa professora, você parece a minha mãe. Posso te dar um abraço?” é uma das frases mais emocionantes que ela diz já ter ouvido de um aluno.

As roupas coloridas e estampadas, o cabelo sempre bem penteado e a maquiagem delicada no rosto compõem o visual de Bel, professora na FAPCOM e na Universidade Presbiteriana Mackenzie. O significado da vaidade não é meramente pela aparência, mas retorna à infância na cidade de Itapetininga no interior de São Paulo, onde ela nasceu e viveu com os pais e os quatro irmãos. Ouvir das colegas de turma na escola que sua mãe era muito bonita enchia o coração de Bel de orgulho e aumentava sua vontade, de algum dia, ser como sua mãe. O salto alto e o batom fazem parte dessas memórias.

Na capital paulista, a cidade que nunca dorme com seus mais de 12 milhões de habitantes, repleta de arranha-céus, prédios, lojas, trânsito parado e uma multidão sempre apressada. Bel encontrou um modo de trazer o colorido do interior, para sua rotina. Em meio a esse cenário monocromático e até caótico para quem não está acostumado com o jeito paulistano de viver, em cada cantinho de sua casa, ela imprime cor com quadros e pinturas, que na verdade são extensões dela própria.

Para Bel, a cor não é apenas um apelo estético. “É o modo como também eu me relaciono com a vida”, explica. O desabrochar de flores brancas, laranjas e rosas, junto com o fundo levemente pintado com tons de amarelo em uma moldura na parede da sala, exprime o otimismo do seu olhar para a vida.

Uma casa nas encostas de um lago rodeado de grandes árvores e uma ponte pode parecer apenas um belo quadro pintado. Mas basta entender um pouco da história de Bel para imaginar que a ponte indica uma transição importante de uma rotina tranquila no interior para a agitação da “cidade grande”.

Em um passeio pela capital, uma placa chamou a atenção de Isabel: precisa-se de auxiliar da Educação Infantil. A proposta pareceu interessante para uma jovem solteira de 19 anos com o Magistério recém-terminado. Após alguns dias, ela foi chamada para preencher a vaga. Em uma época em que a mulher só poderia sair de casa após o casamento, a notícia causou um choque na família, mas a decisão já estava tomada. "Eu vou, foi minha palavra final", recorda-se.

Os traços de uma família 
Ao acaso ela reencontrou um conhecido em São Paulo. Da forte amizade, o matrimônio ocorreu em seis meses. “O casamento era a porta de entrada para você ter o consentimento dos pais. Eles não entendiam uma filha sair de casa para trabalhar. Naquela época, pensavam apenas que lugar de mulher era em casa, sendo dona de casa”. Ao lado do marido, comemorou Bodas de Coral, 35 anos de casados, essenciais para ela, que garantiram apoio e amor para construir uma família.

A natureza geradora de vida é fonte de inspiração para suas pinturas e suas maiores obras-primas: os filhos Guilherme e André. Ela conta que o mais velho foi muito bem planejado e chegou enquanto era estudante de Artes Plásticas. Nas aulas da faculdade, estudava obras clássicas que retratavam a maternidade, como “Pietá”, de Michelangelo, até “Mãe”, de Joaquin Sorolla. Porém, diz que só entendeu o mistério quando o experimentou.

Isabel teve uma experiência de espiritualidade com a maternidade. “É a melhor escultura. Claro que eu não fiz sozinha, foi uma intervenção divina incrível”, fala com voz serena sobre a chegada de Guilherme. Já André, o caçula, é para Isabel sua outra metade ou como ela gosta de dizer: “o espelho das minhas virtudes e fraquezas”.

A carreira profissional de Isabel acompanhou o crescimento dos filhos: de professora do Ensino Infantil até Arte Educadora. Ela também deu aulas para Guilherme e André. Apesar da carga horária de 40 horas semanais de trabalho, como docente universitária, ela relata cheia de felicidade uma das frases do filho: “Você trabalha tanto, mãe. Mas eu não sinto a sua ausência. Você sempre é e foi presente”.

A rotina de trabalho continua agitada, mas o desejo para o futuro é desacelerar. Mesmo com aquela sensação contemporânea de que sempre tem coisa atrasada para fazer, conta que vive um período de introspecção para questionar se vale a pena todo o acúmulo de tarefas. “Sou extremamente realizada. Eu me acho uma mulher plena de sentido, de significado, de contentamento, não preciso de mais nada. Tudo que for a mais hoje, está me sufocando". Agora vive um retorno às raízes, à essência e simplicidade.
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Este blog é uma versão teste e provisória do Fapcomunica Online, jornal laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação

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