sexta-feira, 26 de maio de 2017

Especial - Carnaval de São Paulo - Império de Casa Verde

Quem sua a camisa todo o ano para colocar as escolas de samba na avenida? Confira o especial CARNAVAL DE SÃO PAULO - HISTÓRIAS DE QUEM FAZ A FESTA ACONTECER.

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O império de Tiguês

Por: Alan Freire e Julia Santos*

Tiguês em frente ao barracão da Império / Foto: Julia Santos
Nascido no bairro Jardim Cidalia, na região da Cidade Ademar, Rogério Figueira Ribeiro, ou Tiguês, desfilou pela primeira vez aos três anos, em 1979, na abertura de um torneio de várzea de um campeonato na “Copa Arizona”. Tiguês foi criado na companhia dos tios que tinham um time de futebol de várzea, o “figueirense”, e esse time só jogava fora pois não tinha campo próprio, e isso fez com que o jovem, hoje com 41 anos, se desloca-se por toda a cidade de São Paulo.

O futebol se misturava com a batucada e este ambiente acabou se tornando propício para que Rogério tivesse seus primeiros contatos com o ritmo do carnaval. “Eu ia de fralda para os jogos” destaca. O apelido de Tiguês é em virtude de sua descendência portuguesa. “Todo menino português antigamente era chamado de Tiguês”, lembra Rogério.

A paixão de Rogério pelo samba só fez crescer. No entanto, ele não planejava que anos depois estaria à frente de uma das maiores escolas de samba de São Paulo. Em 1994 tornou-se ritmista da escola de samba Gaviões da Fiel, “Fazer parte deste universo foi o que eu sempre quis desde pequeno”, conta Rogério. Apesar de tocar todos os instrumentos da bateria, sua afinidade era com a caixa. Ao longo de uma década de participação na escola, o então ritmista notou um grande crescimento na qualidade dos desfiles paulistanos. “Naquela época existia um equilíbrio entre três escolas: Rosas de Ouro,
Camisa Verde e Branco e Vai-Vai”. Através desse olhar crítico, Rogério pode levar inovação para a Império de Casa Verde, sua futura escola.

O ano de 2004 trouxe uma reviravolta em sua trajetória com o samba. Ingressando na Império de Casa Verde, junto a ex-integrantes da Gaviões trazidos pelo mestre de bateria Robson Campos, o Zoinho, Rogério Figueira (Tiguês) chegou no momento em que a Império perdeu no quesito bateria no carnaval do mesmo ano. A escola de samba da comunidade da zona norte paulistana estava em seu segundo ano no grupo especial do carnaval. O ambiente era familiar a Rogério. “A Império pegou carona nos carros da Gaviões da Fiel, muito grandes, bem acabados com alegorias enormes”. A linha de produção e alegorias herdadas da também componente do grupo especial ajudou a escola recém chegada a conquistar dois títulos seguidos a partir do ano em que Zoinho e sua bateria somaram à agremiação, “Fez uma diferença muito significativa para que a Império tivesse logo no terceiro ano no grupo especial um bicampeonato (2005 e 2006)”, avalia Tiguês.

Seis anos após a entrada, Rogério relata um dos momentos mais decisivos em sua carreira no carnaval. “Por conta de uma fratura no braço, acabei desfilando como apoio. A partir daí virei chefe de ala, diretor de harmonia. Um dia o presidente me convidou para ser diretor de carnaval da escola.”

O convite de Alexandre Furtado, presidente da Império de Casa Verde, surgiu em 2013 e no ano seguinte Rogério Figueira assumiu o cargo, ampliando sua responsabilidade com a escola e levando sua produtividade e “paixão imperiana” para todas as alas. “O carnaval hoje é muito profissional, mas eu nunca quis mudar. A Império é uma escola que eu gosto, amo e acabo  ficando. Além da paixão, é uma responsabilidade muito grande agregar os diversos setores da escola”, descreve o diretor.

Apesar de ser paulistano, Rogério também conhece o carnaval carioca e destaca as principais semelhanças e diferenças da maior festa popular do Brasil no trecho Rio-São Paulo. “Estudei os diversos modelos de carnaval existentes aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro. A cultura do paulistano é praia ou interior. São Paulo é multicultural, e isso não dá o apego ao samba”, explica Tiguês, que desfilou também na Sapucaí e aprecia os dois polos carnavalescos explorados no país.

Rogério foge do mito de que quem trabalha com carnaval restringe seu tempo e dedicação a esse tipo de função. Seu ambiente de trabalho vai além dos muros do barracão, com uma microempresa dedicada à fantasias. “Trabalhar com o carnaval é muito gostoso para se aprender. Mas não vou dizer que quero trabalhar o resto da vida com isso”. Apesar de se dedicar ao universo do carnaval e contar com um cargo significativo dentro de uma escola de samba do grupo especial, Rogério Figueira (Tiguês), paulistano da zona sul, reserva tempo para a esposa e o filho Leonardo, de três anos, que não aderiram ao samba.

Idade não é documento

Com 23 anos de atividade, formada por membros dissidentes da tradicional Unidos do Peruche, a Império de Casa Verde, que leva as cores azul e branco, coleciona seis títulos de campeã, sendo três no grupo especial e os demais no grupo de acesso. Com pouca idade e muita tradição, a escola não é uma das mais tradicionais. Pelo contrário, é uma das mais novas, tanto que foi apelidada como “Caçula do Samba”. Uma das maiores de São Paulo.

A Império sempre usou materiais mais nobres, não se preocupando somente com o olhar dos jurados. “A maioria das pessoas que trabalham na produção moram em Parintins (Amazônia), e chegam no meio do ano para os preparativos do desfile. Essa união de tradições é muito importante.”

Composição da alegoria “elemento água” usado no carnaval 2016 / Foto: Julia Santos

Aprendendo com os erros

No carnaval de 2012, a Império de Casa Verde sofreu uma grande crise quando Tiago Ciro Tadeu Farias, então componente da escola, rasgou os envelopes com as notas do último quesito da apuração. O ocorrido levou ao corte de verbas da escola como penalização para o desfile do ano seguinte. “Foi nesse carnaval (2013) que sentimos que a escola era realmente grande”, lembra Tiguês.

No ano seguinte ao acontecimento, o enredo trazido pela Império levava o nome de “Pra todo mal, a cura. Quem canta seus males espanta!”, garantindo a quinta colocação. Rogério avalia a perda. “Só não vencemos, pois a fantasia de uma componente da comissão de frente caiu”. Após o resultado de um desfile sem verbas, a escola contou anos consecutivos em posições abaixo do esperado (oitavo, em 2014 e 2015), “Em 2015, houve muita mudança para as demais escolas, que estavam melhores colocadas”, descreve o diretor.

Com a chegada do carnavalesco Jorge Freitas para o carnaval de 2016, o projeto da escola agradou a comunidade, os membros e aos jurados de carnaval que a consagraram com o título de campeã pelo enredo “O Império dos Mistérios”. No ano de 2017, a escola conquistou o 4° lugar, se destacando ao usar o tema “Paz: O Império da Nova Era” de forma criativa, mantendo o alto padrão de investimento em alegorias luxuosas.

Mais que membros, artistas

“A gente costuma dizer que na comunidade da “Império” não temos um ou dois artistas famosos que chamam a mídia, mas sim 2.500 artistas, que têm pesos diferentes dentro da escola.”

Com a participação de Lívia Andrade (atriz, apresentadora e modelo) como madrinha de bateria e Valeska Reis (assistente de palco do programa “Hora Do Faro”) como rainha, a Império de Casa Verde não acumula a tradição de desfilar com famosos, “Não queremos valorizar artistas, porque muitas vezes não há uma emoção e o entrosamento com a escola”, garante o diretor Rogério Tiguês.

Ao contrário do carnaval carioca, o paulistano costuma reunir poucas celebridades em destaque. A escola de samba que representa a região da Casa Verde costuma valorizar os funcionários, equiparando-os aos artistas, “Aqui o componente é o artista. É claro que qualquer famoso que chegar na escola será bem recebido, mas buscamos artistas daqui”, finaliza.

A escola inova ao trazer um mestre-sala japonês. Trata-se de Tsubasa Miyoshi, 36, integrante da Império há mais de 12 anos. Os componentes não o tratam como celebridade de televisão, mas como artista. Vindo da periferia de Tóquio, Miyoshi ainda está se adaptando com o sotaque brasileiro. “Nunca tive problemas com a língua. Quando não sei como dizer, sorrio”, afirmou ao portal Terra.

Quando levou o título em 2016, a escola premiou os funcionários da limpeza, cozinha e almoxarifado com a presença no desfile das campeãs, “Eles desfilaram em cima do carro, e para eles foi uma surpresa”, relata Tiguês, emocionado. “Gostamos de valorizar as pessoas que fazem a escola acontecer, que fazem da escola uma artista”, complementa o diretor de carnaval da Império de Casa Verde, escola de samba que planeja para 2018 um enredo valorizando a cultura popular: “O povo, a nobreza real”, baseado no musical “Os Miseráveis”.

*ESPECIAL CARNAVAL DE SÃO PAULO - PERFIS, produzido pela turma do terceiro semestre matutino de Jornalismo na disciplina Jornalismo Cultural. Leia mais: Unidos do Peruche.
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