O inspetor está há 12 anos, desde a construção do prédio, na instituição de ensino
Por Paloma Mello
O barulho do sino anuncia o início do horário das aulas noturnas na Faculdade Paulus de Comunicação - FAPCOM: 19h (sem atraso). Estatura baixa, terno, gravata e cabelos para
trás, com passos apressados, Antenor Carlos, 49, caminha pela instituição
para tocar o famoso sino da FAPCOM, mantida por padres e irmãos paulinos. O sotaque mineiro e a fala entre sorrisos definem
o sujeito que recepciona os alunos na entrada e saída de aula. Antenor, mais
conhecido como Seu Antenor, é o inspetor da faculdade de comunicação que carrega o tão conhecido sino, trazido diretamente do Vaticano.
Seu
Antenor chegou na instituição em 2004, ainda nas obras, trabalhava como ajudante na construção do
prédio - na época, era uma fonte de renda extra, pois também trabalhava como
folguista. Com o prédio pronto, o engenheiro perguntou a ele se
havia interesse em continuar trabalhando com a equipe. “Aceitei, era o meu sonho
trabalhar na faculdade”, lembra. O inspetor, que é chefe dos seguranças, já
passou por diversos setores na FAPCOM, como portaria e encarregado de limpeza.
Antenor Carlos durante os intervalos das aulas
Entre
tantas memórias ao longo dos 12 anos, Antenor, sempre de terno, gravata e crachá, conta que no início foi difícil a
sua adaptação com os estudantes, porém, com o tempo tudo melhorou. “O começo para mim não foi legal, mas hoje os alunos
são como se fossem meus filhos. Eles me respeitam bastante”, conta.
A ex-aluna, formada em jornalismo, Verônica Lopes, lembra que Seu Antenor esteve
presente em toda a sua vida acadêmica fapconiana e não só como o senhor que anuncia o início, término das aulas e intervalos. "Tanto que quando eu tranquei a faculdade, ele veio falar
comigo sobre o motivo e perguntar se eu iria ou não voltar. Todo preocupado”, recorda.
Inspetor fala sobre a sua relação com os alunos
Na
última colação de grau da faculdade em 2017, o mineiro subiu ao palco para receber uma
homenagem dos formandos. No auditório no andar -2 da FAPCOM, palco da cerimônia, ele recebeu os aplausos e o carinho dos alunos, professores e convidados que lotaram o local. Também vai participar de um projeto na FAPCOM TV. A convite da aluna Fernanda Araújo e os colegas da turma do 4°
semestre de Rádio e TV e Internet, o inspetor vai ganhar um quadro no programa experimental dos alunos chamado Contato FAPCOM. Tem novidade por aí: Seu Antenor não será visto apenas entre os corredores, salas de aula. Estará também na programação on-line da faculdade. Leia também: ex-aluna da FAPCOM escreveu um perfil do Seu Antenor para o Portal Imprensa.
Hoje os jornalistas estão cada vez mais conectados e integrados às redes sociais, mas nem sempre podem ser apenas internautas postando uma foto nas mídias
Por Tainara Cavalcante
No dia 9 do de setembro de 2017, a
jornalista da Rede Globo, Sandra Coutinho, estava nos Estados Unidos cobrindo o
desastre do furacão Irma em Miami, quando postou uma foto polêmica no Twitter
que rendeu uma série de comentários, principalmente negativos e dividiu a
internet entre defensores e críticos. Na imagem, a correspondente aparentemente sorria
com a legenda: “Começou #Irma”. Até a manhã do dia seguinte, a foto já tinha
rendido 5.100 retuítes, 8.700 curtidas e 984 comentários.
A
foto foi removida pouco tempo depois, mas as pessoas continuaram comentando e
discutindo sobre o assunto. O que levanta a questão: o jornalista apresentador
seria uma figura pública?
Hoje,
apresentadores como Mariana Palma, William Bonner, Evaristo Costa e Sandra Coutinho são acompanhados por muitos seguidores nas redes
sociais. Somente os quatro têm mais de 12 milhões de seguidores no Twitter,
que interagem comentando, compartilhando e curtindo a todo o minuto. William Bonner tem mais
de 10 milhões. Suas publicações são geralmente queixas e comentários humorados
sobre o dia a dia, pessoais ou profissionais. O ex-apresentador do Jornal Hoje, Evaristo Costa, também faz sucesso nas redes sociais. Sites de entretenimento, vlogues e até
portais de notícias já publicaram “As dez melhores respostas do Evaristo Costa”ou algo parecido. No universo feminino, a apresentadora do G1 em um minuto, Mari
Palma vem ganhando a internet. Depois que começou no programa, o número de
seguidores aumentou consideravelmente. Hoje, o seu instagram já passa dos
730.000 seguidores.
Para a pesquisadora de
comunicação digital na ECA-USP, Issaf Karhawi, o jornalista não chega a ser um
influenciador digital, mas por conta da sua influência “offline” ele a carrega
para outros meios. “Quase que em um movimento transmidiático de narrativas
diferentes por diferentes plataformas”, complementa.
Para ela, vivemos em uma “cultura
do espetáculo” onde existir nas redes significa se expor de alguma
maneira. Sobre o caso da
correspondente Sandra Coutinho, ela diz a jornalista utilizou o Twitter como
uma internauta comum usando uma rede social, quando na verdade, ela tem uma
responsabilidade jornalística.
O movimento causa debate entre os que são favoráveis e contrários a proposta Por Guilherme Garcia
Os projetos de lei decorrentes do movimento Escola Sem Partido voltaram a gerar polêmicas recentemente. Foi divulgada em diversos veículos que a proposta tem a pretensão de tirar o título de “Patrono da Educação Brasileira” de Paulo Freire, considerado um dos maiores pensadores da história da pedagogia mundial.
O movimento causa debate entre os que são favoráveis e contrários a proposta. A página do Facebook “Professores contra o Escola Sem Partido” foi criada, como o próprio nome já diz, para manifestar a opinião contrária de alguns professores em relação aos projetos de lei. Segundo a página, na prática, o projeto visa censurar as atividades exercidas pelos professores em sala de aula, criando impedimentos na discussão e na troca de ideias com os alunos.
O movimento Escola Sem Partido estabeleceu seis itens denominados como “deveres do professor” que reforçam a ideia de que os educadores não devem fazer propaganda político-partidária ou ideológica em sala de aula. A página contrária ao movimento expôs controvérsias em relação aos itens apontados como deveres do professor no infográfico abaixo:
Posicionamento da Organização das Nações Unidas
Relatorias especiais do Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) enviaram ao governo brasileiro uma carta demonstrando preocupação em relação aos projetos de lei decorrentes do movimento Escola Sem Partido. Para os relatores, o projeto representa censura e violação ao direito de expressão em sala de aula. A atitude foi impulsionada por alertas de ONGs brasileiras e gerou revolta em movimentos favoráveis ao projeto.
A professora Paula Marisa é favorável aos projeto de lei e criticou a carta da ONU ao governo brasileiro. Para ela, a organização não tem legitimidade e utilizou de “argumentos estapafúrdios” para se posicionar contrária ao projeto. A professora rebate argumentos da ONU em vídeo no seu canal.
O professor e político Marcelo Freixo também fez um vídeo durante sua campanha à prefeitura do Rio de Janeiro em 2016 em que se posicionou contrário ao projeto Escola Sem Partido. “Essa direita mais conservadora, quando vai falar sobre escola sem partido, na verdade eles querem uma escola totalitária, uma escola que não permita partes, uma escola que não permita diferença, o valor das idéias, das opiniões, da divergência, um bom debate”, afirma.
Os projetos de lei continuam tramitando no contexto federal, estadual e municipal.
Novos rumos da economia mundial podem contribuir
para tornar a China e o BRICS nosso maior parceiro estratégico Por Mario Tadeu
Charles Tang, presidente CCIBC - Foto: Divulgação
A eleição de Donald
Trump como presidente dos EUA gerou incertezas para a economia mundial, mas afetou
ainda mais o Brasil que, desde os anos 70 do século passado, vive o dilema entre
manter os EUA como principal parceiro estratégico da economia ou abrir novos
mercados que possam quebrar a dependência que essa relação político-econômica acarreta.
Charles Tang, da
CCIBC – Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, é um dos principais
construtores da forte parceria que vem trazendo investimentos chineses
para o País. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial
do Brasil e vem se constituindo numa das principais fontes de investimento.
A corrente de comércio Brasil-China ampliou-se de forma marcante entre 2001 e 2015
– passando de US$ 3,2 bilhões para US$ 66,3 bilhões. Em 2009, a China passou a figurar
não apenas como maior mercado comprador das exportações brasileiras, mas também
como principal parceiro comercial do Brasil, pelo critério do fluxo de comércio.
Em 2012, a China tornou-se também o principal fornecedor de produtos importados
pelo Brasil.
A China figura entre as principais fontes
de investimento estrangeiro direto no Brasil, com destaque para os setores de energia
e mineração, siderurgia e agronegócio. Tem-se observado, também, diversificação
dos investimentos chineses no país para segmentos como telecomunicações, automóveis,
máquinas, serviços bancários e infraestrutura. Há importantes investimentos brasileiros
na China, em setores como aeronáutico, mineração, alimentos, motores, autopeças,
siderurgia, papel e celulose, e serviços bancários.
Em contrapartida, os Estados Unidos são
o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tendo o fluxo de comércio bilateral
superado US$ 46 bilhões em 2016. Os EUA são o principal destino de exportação de
produtos brasileiros manufaturados e semimanufaturados: cerca de
75% da pauta exportadora brasileira para os norte-americanos. De acordo com dados do Banco Central,
os Estados Unidos continuam a ser o país com maior volume de investimento externo
direto no Brasil, com estoque no valor de US$ 116 bilhões, até 2013 (último dado
disponível). Já o estoque de investimentos
diretos brasileiros nos EUA cresceu de US$ 7,3 bilhões em 2009 para US$ 22,4 bilhões
em 2014 (último dado disponível). Os fluxos têm-se tornado mais equitativos, não
porque os investimentos norte-americanos decaíram, mas porque os investimentos brasileiros
cresceram em ritmo mais acelerado – em 2000, para cada dólar investido nos EUA por
empresas brasileiras, cerca de 47 dólares eram investidos no Brasil por empresas
norte-americanas; em 2014, essa razão caiu para três dólares de empresas norte-americanas
para cada dólar investido por empresas brasileiras.
Fecomercio SP - Investimentos chineses na América do Sul, por Yuning Gao
Qual parceiro comercial é estratégico para o Brasil?
No século XXI empresários brasileiros
têm sido um pouco frustrados com o que o Financial Times descreveu como um
"ritmo lento" do desenvolvimento de alguns aspectos do relacionamento
entre os dois países. Por exemplo, o Brasil reconheceu oficialmente a China como
uma economia de mercado em 2004, mas em 2009 as alterações correspondentes em acordos
comerciais não haviam sido implementadas. Isso se explica pelo dilema brasileiro
de definir seu real papel na economia globalizada. O vínculo brasileiro comercial com o
EUA, apesar da independência conquistada ao longo dos anos, ainda é muito enraizado.
O Brasil ainda busca analisar qual parceria é mais vantajosa para nosso futuro e
economia.
Interesses econômicos
e geopolíticos da China
A China é a segunda maior economia
global, com um PIB de 10,33 trilhões de dólares (apenas atrás dos Estados
Unidos) e uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas – a maior população do
mundo- e uma das maiores potências bélicas do planeta. Com todo esse poderio, os
chineses têm buscado um papel cada vez mais estratégico na geopolítica global. A
iniciativa de formar uma Nova Rota da Seda
faz parte dos planos do país de aumentar ainda mais a presença e a participação
chinesa no mundo. Porém, quais outros fatores poderiam estar levando o país a isso?
Uma das hipóteses é o do excesso de produção da indústria chinesa, cujo mercado
interno não consegue mais absorver. Buscar alianças estratégicas com países da região
poderia aumentar consideravelmente o mercado
consumidor dos seus produtos. Ademais, precisariam investir o capital acumulado
no país durante os anos de crescimento econômico de modo a preservar e aumentar
o valor dos seus investimentos.
Os interesses chineses na Nova Rota da Seda estão ligados à desaceleração
da economia do país, mas também para contrapor a posição hegemônica dos Estados
Unidos na Ásia. A disputa entre as duas maiores economias do mundo acirrou-se após
o surgimento da Parceria Transpacífico, que incluía 12 países do continente asiático,
com exceção da China. Além disso,
o aumento no valor dos salários tem diminuído a vantagem comparativa das indústrias
chinesas. Portanto, da mesma maneira que o Japão e os países dos Tigres Asiáticos,
as fábricas da China tendem a se
transferir para países mais pobres da região, cuja mão de obra seja mais barata.
Contudo, esse projeto enfrenta alguns
problemas para ser posto em prática. Um exemplo vem do Corredor Econômico China-Paquistão
(em inglês, CPEC), acordo assinado em abril de 2015. Esse projeto inclui iniciativas nas áreas de energia
e transporte, além da parceria na construção de um porto de águas profundas que
ofereceria um acesso direto ao Oceano Índico. Todas as ações dentro do CPEC terão
um custo de cerca de 46 bilhões de dólares. Os desafios que acompanham esse projeto
vêm principalmente, mas não unicamente, do lado paquistanês. Há problemas relacionados
com os conflitos internos envolvendo o Talibã, além de uma certa oposição política
interna à iniciativa chinesa. Do lado da China, tem a questão do conflito entre o governo e o Movimento Islâmico
do Turquestão Oriental.
Nova Rota da Seda
Inicialmente anunciada oficialmente em
2013, não é apenas um projeto que envolve vias terrestres. Pelo contrário, também
engloba o comércio marítimo, principalmente com países do Sudeste Asiático, formando
um cinturão comercial e econômico
ligando toda a região da Eurásia, desde Portugal até a Malásia, incluindo também
o continente africano. O projeto visa integrar os diferentes países em cinco áreas
distintas: coordenação política, construção de infraestrutura, comércio desimpedido,
integração financeira e laços de pessoa a pessoa. Dentre essas áreas, a que mais
tem se destacado é a de construção de infraestrutura, em um investimento de cerca
de 40 bilhões de dólares para a construção
de oleodutos, cabos de fibra ótica, ferrovias e rodovias que atravessarão todo o
território da Ásia Central. Além disso, foi criado o Banco Asiático de Infraestrutura
e Investimento, com a participação de outros 57 países, com um capital inicial de
aproximadamente 50 bilhões de dólares.
Dentre os países que ajudaram na criação do banco estão antigos aliados dos Estados
Unidos, como o Reino Unido, a França e a Inglaterra. Mais de 50 Estados demonstraram
interesse em participar dessa iniciativa, de acordo com a China. Com isso, o país busca formar uma
comunidade econômica e comercial
que possa servir aos interesses da economia chinesa.
Porém, o que tem norteado o governo chinês
a investir nesse audacioso projeto? Para isso, precisamos entender um pouco sobre
como a China tende a se relacionar
com o mundo.
BRICS - Aposta brasileira em um bloco que rompe o isolamento econômico
O economista Jim
O’Neill, em 2001, criou a sigla Bric para designar as economias
que mais deveriam crescer no futuro. O’Neil previu que as economias emergentes cresceriam a taxas
mais aceleradas do que as maiores economias do mundo. Em 2011 a África do Sul se
juntou ao grupo, quando a sigla foi atualizada para o Brics atual.
O Brasil olha o
bloco como uma oportunidade de abrir sua economia para mercados onde sua
participação é pequena, porém, mais uma vez, isso atrela o futuro a China, a
mais forte economia do grupo. O Jornal The
Economist publicou uma análise apontando que os BRIC
(sem África do Sul) estão crescendo no mesmo ritmo pela primeira vez desde o
surgimento do grupo. Isso contribui ainda mais para o dilema brasileiro de qual
caminho seguir, ou aposta neste novo modelo ou volta a segurança passiva de
parceria com EUA e Europa.
“O problema mais complicado para o conceito
BRIC pode ser a sua consoante final. A China contribuiu com cerca de metade do PIB
do clube em 2001 e agora representa dois terços completos. A China também abriga
a maioria das maiores empresas do grupo. Oito das dez maiores ações do índice MSCI
BRIC são da China, incluindo Alibaba, Baidu e Tencent (um trio tecnológico que tem
seu próprio acrônimo BAT). À medida que seus mercados crescem e se abrem para entradas
de capital, a China parece destinada a se tornar uma classe de ativos por direito
próprio, que é difícil de conter em um fundo de mercado emergente "holístico",
e muito menos um veículo de quatro países mais estreito. A maior ameaça à ideia
BRIC pode não ser as falhas econômicas do quarteto, mas o sucesso singular de seu
maior membro.” Fonte: The Economist
Perspectivas
A retração dos EUA em fóruns e organizações
internacionais com à eleição de Donald Trump abriu um espaço para as economias
emergentes. O futuro será ditado pela forma como os BRICS irão aproveitar essa
oportunidade.
Reflexos de uma sociedade psicótica,
uma justiça dominada por psicopatas e suas consequências
Por Mario Tadeu
Supremo Tribunal Federal - Foto: Nelson Jr./SCO/STF
Em tempos de conflitos
sociais, dominados por discursos ideológicos entre uma pseudo direita delirante
e uma pseudo esquerda rancorosa, abriu-se a janela de oportunidade para a ação
impune de delinquentes que aproveitam das brechas da Lei e do desconhecimento
de perfis psicológicos para atuar livremente.
Políticos, juristas e
militantes de Direitos Humanos com suas interpretações desconexas dos anseios
da sociedade e aplicação pervertida da Lei contribuem, cada vez mais, para a
impunidade de criminosos violentos, portadores de distúrbios mentais
irreversíveis. Com leis pervertidas, a sociedade perde
referência e acaba alucinando e distorcendo a realidade dos fatos.
Criticar o modelo atual não é defender
linchamentos ou perda de garantias fundamentais dos criminosos (enquanto
cidadãos), mas sim uma necessidade de rever posturas “politicamente corretas”,
impostas por “idiotas úteis” manipulados por condutopatas infiltrados em todas as
áreas da sociedade.
Nosso sistema judiciário é arcaico,
fundamentado em um modelo social vigente nos anos 40 e 50 do século XX, e atualmente
pervertido pelo discurso do politicamente correto, incompatível com a lógica do
Direito Romano, no qual é baseada a nossa legislação.
O Direito Romano permite distorções a
partir da criminalização, ou não, da verbalização do pensamento. Formado há
mais de 2000 anos, ele foi formulado para controlar uma sociedade imperial. Seu
contraposto, o Direito Anglo-Saxão, nasceu de regras de conduta para
convivência social em um sistema tribal. Através da globalização e do bombardeio
de informações midiáticas entramos em contato constante com os dois formatos de
Direito, além de derivados permeados por costumes tribais regionais ou
fundamentalismos religiosos.
Esse contato, desprovido de
conhecimento pela maioria da população de suas diferenças, gera discussões
absurdas de como aplicar a Lei ao que se julga um “ato criminoso” e seus
autores.
Como consequência, a segurança pública
é gerenciada a partir de uma falsa ideia de criminalidade resultante de fatores
sociais, passíveis de serem solucionados através de políticas de justiça social
e campanhas de educação politicamente corretas promovidas pelo agendamento
midiático. Essa prática só tem contribuído para níveis
elevados de impunidade e descrédito da população com a falta de efetividade do
Sistema da Justiça Criminal (Poder Judiciário, Ministério Público, polícia e
administração penitenciária). Os agentes da Lei atuam apenas como burocratas do
sistema judicial, reproduzindo cegamente os procedimentos, com atuação reagente
aos fatos e não como promotores de prevenção de ações criminais.
A imposição de
ideias e posições cosméticas perpetradas por “celebridades” midiáticas dos mais
variados setores da sociedade, recheadas de “boas intenções”, transformou a
vida do cidadão comum em um inferno. O agendamento de notícias promotoras de
direitos humanos é combatido pela ignorância neoliberal de grupos conservadores
medievais. Nesse fogo cruzado fica a maior parte da população na espera do
momento de expor seus anseios, represados na espiral do silêncio.
Perfil social ou Perfil Psicológico?
A psicologia
forense é uma especialidade limitada a poucos. A interferência de pessoas leigas no assunto tem levado os veículos
de comunicação a difundir uma imagem deturpada do que tecnicamente é chamado
de “perfilamento criminológico”. Filmes, novelas, programas sensacionalistas e
toda sorte de “especialistas de plantão” confundem a opinião pública com achismos
e análises ideologicamente contaminadas, quando não totalmente desprovidas de
qualquer fundamento científico.
O total
desconhecimento de estruturas de personalidade, patologias mentais e tipificação
de condutas criminosas (aspectos legais de imputação por atos infracionais) são
geradores de discussões absurdas de como deve ser o tratamento judicial de
fatos cotidianos. Crimes hediondos recebem a mesma interpretação legal que os
crimes banais, circunstâncias reais são deixadas de lado, mesmo que devidamente
descritas no inquérito policial, em troca de interpretação social que atenda ao
clamor público ou ao agendamento do politicamente correto. Em ambos os casos,
não é perfil e nem conduta criminal que serão usados como base para uma sentença,
mas uma tábua rasa de procedimentos legais, tornando igualitárias as punições
para um assalto a mão armada ou o bater de uma carteira.
Ignorantes,
sedentos de vingança, enxergam em qualquer delinquente o perfil lombrosiano
(método de análise, ultrapassado, proposto pelo psiquiatra italiano Cesare
Lombroso) onde uma parcela da população tem uma aparência física padrão que
indica sua inclinação para a criminalidade. Atualmente, esse grupo é
identificado ideologicamente com a direita. No passado, a esquerda
desempenhava esse papel, basta lembrar que Karl Marx e Engels (em “A Ideologia
Alemã - 1845) consideravam qualquer transgressor social como parte do
“lumpesinato” (do alemão lump, “pessoa desprezível”).
Com a queda do
Muro de Berlin (1989), a mesma esquerda, como consequência da perda da bandeira
proletária, muda o discurso e passa a tratar as outrora minorias burguesas
decadentes, que consideravam como escória social, como integrantes dos
“excluídos” sociais do capitalismo.
O mito de que a
criminalidade é consequência da desigualdade social nasce de uma necessidade
ideológica de manter a hegemonia do discurso para os “oprimidos”. Se antes
havia o preconceito declarado incidindo sobre a aparência do individuo e sua
pré-disposição para atos criminais, agora o mesmo preconceito se revela no
discurso dos eruditos de esquerda, mudando o foco da aparência como fator
determinante para uma origem social humilde. Cabe lembrar que, historicamente,
os pobres sempre foram objetos de um olhar estético depreciativo, vistos como
“feios” e “degradados”.
O que diferencia
um criminoso rico de um criminoso pobre é o tratamento que terão perante a
justiça (aqui sim pode-se falar de distinção de classe), mas, mesmo neste
contexto, há confusão e distorção da realidade. Exemplos disso são os casos
famosos como o de Suzane von Richthofen, casal Nardoni, Maníaco do Parque,
Champinha... onde todos são analisados com a mesma régua rasa, independente da
origem social de cada criminoso. Todos acabam como vítimas da sociedade ou
monstros dignos da pena de morte. Suzane von Richthofen é “bonita” e rica; O
Maníaco do Parque é “feio” e pobre. Ambos, criminosos frios e calculistas. Eles
derrubam todas as teorias.
Os casos
mencionados não se explicam através da origem social, abusos sofridos durante a
infância, bulling ou qualquer outro modismo sociologicamente justificado. Todos
são fruto de transtornos mentais delimitados pela psiquiatria e psicologia.
Desconhecendo o
perfilamento forense, onde o autor de um ato infracional é analisado principalmente
através de seu comportamento e não por sua aparência ou origem social, diversos
apedeutas formados em blogs, redes sociais e em áreas de humanas, tais como
sociologia, filosofia, palpitam sobre a causa do comportamento criminoso sem
levar em conta a psique envolvida. Tais apedeutas “eruditos” influenciam
decisões legais, manipulam a opinião pública e geram a sensação de impunidade
vigente. Na outra ponta, açougueiros e aves de rapina da mídia sensacionalista,
com seus seguidores medievais, transformam muitos desses criminosos em mitos e
em representantes do diabo na sociedade.
Nesta briga
ideológica, infratores deixam de ser indivíduos e tornam-se marionetes dos interesses
políticos do jogo de egos envolvidos.
Quem comete crime? Qual pena cada caso deve ter?
A resposta para
a primeira pergunta é simples: qualquer pessoa comete delitos todos os dias, intencionalmente
ou não. Vários deles são crimes tipificados, mesmo que isso seja do
desconhecimento da grande maioria. Na nossa legislação, por exemplo, rasgar ou
rabiscar dinheiro é crime, o simples escrever na porta de um banheiro público é
ato infracional de vandalismo, dar um gole de cerveja para um filho pequeno
experimentar é outro crime... Mas quantos de nós já não fez essas coisas? Quem
nunca cometeu um ato delituoso que atire a primeira pedra.
Explicar
tecnicamente estruturas de personalidade em um artigo opinativo seria maçante e
pouco objetivo, mas é possível esclarecer sobre as diferenças entre o perfil
básico de quem comete um crime e a diferença de tratamento para cada caso.
A grande maioria
dos criminosos são pessoas comuns, com estrutura de personalidade neurótica
(histéricos ou obsessivos – não necessariamente patológicos). Os termos utilizados
aqui são aplicados na tentativa de se definir como lidamos com nossos recalques
e não para definir qualquer distúrbio mental.
O que define se
há ou não patologia é como lidamos com nossas neuroses e isso não tem nenhuma
ligação com criminalidade. Como exemplo, podemos citar o toque, um sintoma neurótico que deve ser
tratado como uma patologia mental.
Crimes cometidos
por pessoas comuns (estrutura neurótica) têm as mais diversas motivações. Podem
ser dolosos (intencionais e premeditados) ou culposos (sem intenção ou
premeditação). Suas circunstâncias e tipificações legais determinam a
penalidade. Os autores sempre terão como sequela o remorso ou pelo menos uma
reflexão sobre o ato praticado. Para eles é plenamente possível implantar
políticas de ressocialização e educação, pois transgrediram a Lei, mas sentem
culpa por isso. O arrependimento sincero é perceptível num interrogatório bem
feito e levado em consideração para as devidas consequências legais.
Criminosos
comuns, dolosos, medem essas consequências. Suas ações sempre serão
proporcionais ao risco de punição. A impunidade gerada por decisões obtusas de
liberar indiscriminadamente criminosos nas chamadas audiências de custódia,
onde um Juiz define o grau de ameaça representado pelo autor para a sociedade,
contribui para a reincidência. Isso vale inclusive para os homicidas.
Falando no
sentido vulgar, “malandro é malandro e mané é mané”, mas, no manicômio judiciário
ou em uma penitenciária de máxima segurança, há dois tipos de criminosos bem
distintos: o psicótico e o psicopata (termo clássico, mas definido, também,
como sociopata ou condutopata, conforme alguns profissionais).
Controversos, os
dois padrões são erroneamente vistos como padrões mentais iguais ou
semelhantes. Mais uma vez, formadores de opinião, completamente leigos em saúde
mental, deturpam fatos e conceitos científicos, analisando personalidades
diferentes de criminosos como se fossem iguais, utilizando o termo “psicótico”
ou “psicopata” como se fossem sinônimos, um erro gravíssimo em termos de saúde
mental. Jornalistas sensacionalistas chegam ao absurdo de difundir a falácia de
que todos os “doentes mentais” deviam estar trancafiados em hospícios para
evitar que cometam crimes.
Para desmistificar
o “perfil criminal” de um psicótico é necessário entender seu transtorno
mental. Psicóticos podem ser acometidos de alucinações, delírios, paranoias...
São os verdadeiros “loucos”. Isso não significa que cometerão crimes. Na grande
maioria dos casos, devidamente tratados, jamais cometerão ações prejudiciais à
sociedade, muito ao contrário, há diversos gênios acometidos pelos transtornos
psicóticos, entre eles grandes artistas, escritores, cientistas, políticos,
músicos, tais como: Sidney Sheldon (maníaco-depressivo); Agatha Christie, Van
Gogh e Ludwig van Beethoven (transtorno bipolar); Clarice Lispector e Ernest
Hemingway (depressão); John Forbes Nash (esquizofrenia e depressão), entre
outros. Há ainda outros distúrbios mentais decorrentes de diversos fatores,
como a demência frontotemporal (Friedrich
Nietzsche foi acometido deste transtorno), mas nenhum desses distúrbios irá
predispor o portador à prática de crimes.
Crimes
cometidos por portadores de transtornos mentais (tratáveis) não podem ser analisados
da mesma forma que os cometidos por pessoas comuns ou por psicopatas. Se
cometidos durante um comprovado surto psicótico, seu autor não pode ser
imputado (ser responsabilizado criminalmente pela ação), pois há uma ausência
de consciência da ação praticada. Nestes casos, geralmente, o autor não está em
pleno controle de suas faculdades mentais; sua ação é consequência do
transtorno do qual é portador, mas não é de forma alguma intencional. Um caso
típico é o “Massacre de Realengo” em 2011, onde Wellington Menezes de Oliveira atirou
em diversas crianças em uma escola no bairro homônimo na cidade do Rio de
Janeiro. Mesmo com as diversas avaliações de “especialistas” de plantão
acusando-o de ser um psicopata, “louco que deveria estar encarcerado”, vítima
de bulling, Wellington era um psicótico acometido de delírios persecutórios
(neste caso, vulgarmente mania de perseguição). Sua ação foi discutida até por
teólogos como Leonardo Boff, que chegou a opinar sobre a pretensa ligação com
extremismo religioso islâmico de Wellington; outros o classificaram como um
spree killer (autor de múltiplas mortes em um curto espaço de tempo, caso comum
no Estados Unidos – EUA, onde matar pessoas em público é uma epidemia, mas
considerada uma forma não técnica de classificação).
Surtos
psicóticos podem acometer uma pessoa em diversas circunstâncias. O uso de entorpecentes
é um dos fatores responsável por um grande número de crimes relacionados a essa
patologia. Os casos poderão ser imputáveis, semimputáveis ou inimputáveis de
acordo com as circunstâncias. Outro exemplo é o de uma mãe que fere ou mata um
filho em consequência da depressão pós-parto. É necessária
uma compreensão ampla de todos os fatores que podem ter desencadeado tal
comportamento, e isso é responsabilidade de profissionais devidamente
qualificados na área forense, que são especializados em diagnosticar e orientar
os profissionais da justiça acerca do melhor procedimento a ser adotado a quem
cometeu o delito.
Psicopatas, os verdadeiros predadores sem cura
Romantizados por
filmes, telenovelas, livros e glamorizados pela mídia, personagens como
Hannibal, na ficção ou Charles Manson, na vida real, despertam um interesse
mórbido. Até mesmos profissionais de saúde mental, interessados em disputar
holofotes com essas “celebridades”, escrevem livros que viram best-sellers, mas
só contribuem para deturpar ainda mais as patologias ligadas ao tema e seus
portadores.
Essa mesma
mídia, ao tratar predadores irrecuperáveis ou criminosos comuns, surpreendidos
em flagrante delito como “suspeitos”, agem com cinismo e psicopatia extrema, ao
usar de eufemismos para promover o politicamente correto com a única finalidade
de parecer “bons meninos” para a sociedade. O mesmo comportamento será encontrado
entre os piores predadores, literalmente lobos em pele de cordeiro.
Graças a esse
modelo baseado na alegação de que todos são vítimas sociais, diversos
psicopatas passam pelo sistema judiciário sem serem identificados como tal, ou
quando o são, recebem o mesmo tratamento destinado ao criminoso comum.
O psicopata é um
oportunista calculista, ele está onde menos se espera. No caso de pedófilos,
não é incomum encontrá-los entre aqueles que deveriam proteger crianças e
pré-adolescentes. Em 2016, José
Cesar Ramalho, presidente do Conselho Tutelar da região central de Londrina,
Paraná, foi preso por assédio a uma adolescente de 16 anos. Há casos obscuros
envolvendo religiosos, agentes de casas de custódia, como a antiga FEBEM, atual
Fundação Casa.
Até a falta de profissionais qualificados em
conselhos tutelares expõe crianças ao perigo dos psicopatas. Em 2008, a
conselheira tutelar Edna Amante, da cidade de Ribeirão Pires, São Paulo, recomendou
- com base em um laudo da psicóloga Verônika
Ferber Topio do Abrigo Novo Rumo -, que a Juíza Isabel
Cardoso da Cunha Lopes Enei, encaminhasse os menores Igor Giovani Rodrigues, de
12 anos, e João Vitor Rodrigues, de 13 anos (que imploravam para serem mantidos
sob custódia da justiça) de volta ao lar e fossem entregues aos seus
responsáveis legais, no caso o pai e a madrasta. Logo em seguida ao retorno, ambos foram assassinados e
esquartejados por esses mesmos responsáveis, e os pedaços dos corpos foram
abandonados em no lixo. Pai e madrasta foram a júri popular e condenados pelos
crimes qualificados. Entretanto, o imbróglio envolvendo os que deveriam
zelar pelas crianças acabou em pizza. Edna Amante chegou a se candidatar em
2016 para o cargo de vereadora pelo PMDB em Ribeirão Pires.
No Brasil, há uma grande confusão acerca do que
define um psicopata. Isso facilita a ação desses criminosos manipuladores,
sendo que vários chegam a alegar que ouvem vozes que os levaram a praticar seus
delitos (mentira contumaz que visa diminuir a pena ou gerar inimputabilidade).
Outros, como pedófilos e abusadores sexuais do tipo que ejaculam em mulheres em
ônibus, tentam se colocar como “vítimas” de impulsos decorrentes de abusos
sofridos quando eram crianças. O Maníaco do Parque, Francisco de Assis Pereira, usou deste artificio em sua defesa.
Essa falácia cai por terra ao lembrar do médico Abdel Massih, um assediador com
uma infância rica e feliz.
Abusador libertado em audiência de custódia - Foto: Reprodução/TV Globo
Os
assassinos seriais (serial
killers) são raros. A grande maioria dos psicopatas não irão se
tornar assassinos, mas todos irão usar de seus “atributos mentais” distorcidos
para auferir vantagens pessoais em detrimento do outro e da sociedade. Para o
psicopata, a Lei é para o outro, nunca para si mesmo. Essa Lei só será
respeitada se for da conveniência desses predadores sociais, isso explica a
razão de muitos buscarem a carreira jurídica ou política como forma de
satisfazer suas ambições.
Comparado a
todos os outros, Yosef Stalin, ditador soviético, foi o pior psicopata da
história da humanidade, responsável pela morte, direta ou indiretamente dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo
(incluindo cerca de 10 milhões de ucranianos e por volta de 65 milhões de
chineses, mortos em decorrência das ações de seu aliado e discípulo Mao
Tsé-Tung – acusado de pedofilia por alguns dos antigos companheiros). Porém, interesses
ideológicos e a própria manipulação da mídia classificam Adolf Hitler como o
pior psicopata. No entanto, basta aprofundar o perfilamento psicopatológico de
ambos os ditadores para descobrir a verdade. Não se trata aqui de diminuir ou
ampliar os crimes imputados aos personagens, mas sim demonstrar como a análise
vulgar dos atos praticados pode deturpar um diagnóstico.
Psicopatas
são desprovidos de emoções afetivas e se consideram acima da Lei,
escarnecendo-a ou manipulando-a ao seu bel prazer. Sua única preocupação é
consigo mesmo e não estabelecem vínculos sociais que não tenham por objetivo a
satisfação de seus desejos inconfessáveis. Todos eles sentem desprezo por
qualquer vida alheia. Em sua história de vida, sempre há um relato de violência
contra animais e atos bizarros para os padrões sociais. Não têm mania de
perseguição, afinal não se consideram a presa, mas sim o predador. Em geral,
todo psicopata, criminoso ou não, foi uma criança problemática e desprovida de
amor em relação a sua família.
Hitler foi
uma criança comum que amava profundamente sua mãe. Respeitava seu pai, figura
representativa da lei familiar, do qual discordava, mas não ousava transgredir
a qualquer custo. Quando adulto, serviu ao exército alemão durante a Primeira
Guerra Mundial, sem jamais ser acusado de qualquer ato indigno no campo de
batalha. Foi o precursor da defesa dos diretos dos animais e da ecologia, e,
segundo relatos, era gentil e extremamente amável com crianças e mulheres. Seus
laços de amizade eram tidos como sinceros e intensos.
Stalin, ao
contrário, foi uma criança rebelde e nunca se soube que tivesse tido qualquer
animal de estimação. Segundo alguns historiadores militares, é dele a ideia de
usar cães com explosivos amarrados ao corpo para explodir blindados alemães
durante a Segunda Guerra Mundial. Nunca manteve laços de amizade com qualquer
pessoa sem objetivos puramente calculados, incluindo entre esses Lavrentiy Beria,
chefe da NKVD (polícia secreta), notório pedófilo e assassino, responsável por
grande parte dos crimes durante o período stalinista. Desprezava seus filhos e
recusou-se a salvar um deles quando esse foi aprisionado pelos alemães durante
a guerra. Batia em sua primeira esposa e durante a juventude esteve envolvido
com diversos crimes comuns, incluindo roubo. Sua frase mais sintomática foi: “A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma
estatística”.
De acordo com
os padrões patológicos, fica claro que Stalin era o verdadeiro psicopata. Porém,
as ações de Hitler não deixaram de ser influenciadas por distúrbios mentais. É
historicamente comprovado que Hitler sofreu de histeria pós-traumática após
ficar incapacitado devido a um ataque por gás no final da Primeira Guerra,
tornando-se viciado em drogas. Segundo alguns relatos, além disso ele era portador
de sífilis (doença que causa alterações no comportamento), tinha delírios e
mania de perseguição. Pode-se diagnosticar Hitler como um psicótico ou portador
de várias patologias mentais, jamais como psicopata. O mesmo não pode ser dito
de outros atores do Nazismo, incluindo alguns religiosos pouco conhecidos no
ocidente, mas que foram extremamente cruéis em suas ações.
Índice da maldade
A diferença
entre a questão do comportamento psicótico e a do comportamento psicopata é tão
controversa que a visão europeia e a norte-americana se chocam a tal ponto que
torna a linha tênue que separa um padrão do outro muitas vezes bem difícil de se
identificar.
Hollywood é
especialmente culpada por essa confusão. O clássico filme Psicose, de Alfred
Hitchcock, fez do personagem principal um grande “psicopata” no imaginário
coletivo, mas basta perceber que os crimes são praticados somente quando o personagem sofre os surtos
psicóticos. Ele não é um serial killer satisfazendo seus desejos obscuros ou
guiado por um ego distorcido, seus crimes, mesmo seriais, são resultado de uma
completa dissociação da realidade. Devidamente diagnosticado e medicado, é bem
provável que as alucinações geradoras do comportamento criminoso
desapareceriam. Já Hannibal, jamais deixará de planejar novas vítimas, mesmo
com todo medicamento disponível no mundo.
Por entender
de forma diferente os distúrbios mentais, a psiquiatria e a psicologia norte-americana classificam esses problemas de forma muito diferente dos europeus e do
restante do mundo. Porém, mesmo esse olhar diferenciado não chega a contaminar
o sistema legal americano. Lá, criminosos incuráveis ou inimputáveis têm o
tratamento proporcional ao delito cometido.
O psiquiatra
forense Michael Stone, membro do Personality
Studies Institute e da Columbia
University, ambas instituições norte americanas,
desenvolveu o chamado Most Evil ou Índice da Maldade, como é
conhecido aqui no Brasil através da série homônima de TV exibida no Discovery
Channel. O índice é dividido em 22 categorias de crimes classificados conforme
a motivação e perfil psicológico do criminoso. Mesmo impondo o modelo americano
de interpretar a questão, esse índice é bem didático e bem fundamentado,
voltado especificamente para pessoas que cometeram assassinatos. Ele não aborda
os que nunca mataram ninguém, como é o caso de diversos psicopatas golpistas do
mercado financeiro, políticos corruptos
O criminoso
americano Ted Bundy, um predador galã, com uma aparência acima de qualquer
suspeita, é classificado na 17ª posição do índice, como um assassino em série,
sexualmente perverso, tendo a violação como principal motivação para o crime,
sendo a vítima morta para ocultar evidências da ação primária. Ted inspirou o
personagem Buffalo Bill do filme “Silêncio dos Inocentes”, pois, tal qual Bill,
Ted fingia alguma incapacidade física para pedir auxílio às vítimas desavisadas.
Ted Bundy - Foto: Nelson Jr./SCO/STF
No Brasil, um
dos mais destacados e renomados psiquiatras forenses é o Dr. Guido Palomba. Extremamente
ético, ele jamais comenta detalhes sobre os diversos casos a que foi convocado a
dar seu parecer, mas os mais famosos da história policial recente no Brasil
receberam suas considerações profissionais. O Dr. Guido é um crítico do
discurso politicamente correto que enxerga criminosos como Champinha apenas
como vítimas sociais e passiveis de serem recuperáveis para o convívio em
sociedade, como acredita notórios defensores dos Direitos Humanos desprovidos
de conhecimentos mínimos sobre a psique humana, entre eles o ex-Senador Eduardo
Suplicy.
Dr. Guido não
gosta do termo “sociopata”, ele está entre os que preferem chamar os portadores
de distúrbios de comportamento como “condutopatas”. Seus estudos e conhecimentos
vão além dos criminosos irrecuperáveis, ele possui amplos conhecimentos que o
permitem distinguir claramente uma personalidade psicótica, um portador de
parafilias (comportamentos sexuais considerados fora da normalidade, mas não
necessariamente enquadrados criminalmente), um psicopatas assassinos ou não.
Defensor de
mudanças no código penal que permitam a custódia indefinida de “condutopatas”,
o Dr. Guido esclarece: "a diferença é que a pena
de reclusão permite a progressão da pena e o sentenciado vai para a rua, volta
para a casa e ao convívio social. A medida de segurança pode ser para a vida
toda do criminoso. Por não haver cura para a psicopatia, ele não deixará a Casa
de Custódia e Tratamento".
Programa Todo Seu (Rede TV) - Entrevista com Dr. Guido Palomba
A pele de
cordeiro de um psicopata pode ser o avental branco de um médico, a toga de um
juiz, o terno bem alinhado de um político, o hábito de um religioso, o uniforme
de um ditador, a roupa comum de qualquer office-boy anônimo. Psicopatas não são
o que vemos, mas aquilo que está além de qualquer suspeita. Um dos principais
indicadores de psicopatia é a ausência de remorso nas ações praticadas ou de
empatia com as vítimas.
Onde encontrar a
psicopatia? Talvez no furto da obra autoral de um subordinado sobre o tema,
publicado por uma celebridade ansiosa por atrair holofotes. Quando alguns
acusam outro de psicopatia sem o devido conhecimento forense, pode-se observar
um dedo contra o outro, mas três sempre voltados para quem acusa.
Banalização da terminologia psicológica pelo politicamente
correto e a mídia
Outro fator
gerador de conflitos sociais desconexos com a realidade são as tentativas de
criminalizar opiniões decorrentes de ignorância, fanatismo religioso ou fobias
passíveis de terapias. O mais recorrente abuso desta apropriação indevida é a
utilização do termo “homofobia”. Todos os dias a mídia, bem-intencionada ou
não, classifica como crime de homofobia qualquer preconceito que atinja membros
da minoria LGBT. Esse comportamento da mídia, ao contrário de contribuir para a
desestigmatização desse grupo social, só tem aumentado a animosidade de
parcelas significativas da sociedade, que se veem amordaçadas, ameaçadas e
impedidas de emitir suas opiniões, sejam elas corretas ou não. Trata-se aqui
não de um crime, mas da necessidade de um amplo espaço de discussão para
sociólogos e outros estudiosos sociais.
O termo fobia
vem do grego phobos (medo), Deus grego, filho de Ares (guerra), que nas guerras
espalhava o medo e a covardia entre seus inimigos. Para a psiquiatria e a psicologia,
a fobia é uma patologia decorrente do medo ou paranoia em relação a algo que
causa profunda dor e aflição ao seu portador. Assim como a psicopatia e a
psicose, ser homofóbico não é crime, mas a atos decorrentes podem ter caráter
de ato infracional ou de crime, dependendo do caso.
Não há como
educar o homofóbico a respeitar o outro se ele não respeita a si próprio. Sua
condição é resultado do medo de se ver no espelho, pois ele nega de todas as
formas possíveis sua própria condição latente homossexual que ameaça seu ego
pretensamente heterossexual. Se um homofóbico jamais praticar qualquer ação
violenta que possa ser enquadrada como crime pelo código penal, não existe como
qualificar juridicamente seu “medo”. Mais uma vez, o correto seria enquadrar as
ações, de violência verbal ou física,
como ato infracional ou crime, e não sua condição patológica.
Na antiga
série Batman da televisão, o personagem declara que “nenhum homem está acima da Lei ou baixo dela”. É irônico pensar
que podemos tirar muito mais conclusões na frase deste herói dos quadrinhos que
da inútil discussão entre os que vivem tentando impor suas convicções no grito
através dos canais de mídia. Em resumo, não se pode tratar como lixo quem
comete até o pior dos crimes e nem colocá-los em uma posição de proteção acima
de suas vítimas. A Lei pode e deve ser cega, mas jamais pode ser míope como a
sociedade que perdeu a referência entre o certo e o errado.
Este blog é uma versão teste e provisória do Fapcomunica Online, jornal laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação