terça-feira, 25 de abril de 2017

Futebol feminino: Taça Maria Chuteira mostra a importância da desconstrução de padrões

Ao contrário do que o nome sugere, neste campeonato as mulheres não estão nas arquibancadas, mas sim no campo

Foto Mateus Souza - Reprodução: Taça Maria Chuteira 2016
Por Fernanda Andrade e Valéria Soares*

Há 122 anos, mais especificamente no dia 23 de março de 1895, era realizada a primeira partida de futebol feminino no Brasil reconhecida pela FIFA. Desde então as mulheres têm procurado ganhar espaço na modalidade que, em 1941, durante o Estado Novo, foi proibida por lei no Brasil e só voltou a ser praticada nos anos 80. Por este contexto histórico, o crescimento e envolvimento da população com o esporte foram retardados.

Com o passar dos anos, o futebol feminino tem criado seu próprio espaço, e conforme dados publicados em 2014, pelo setor de Desenvolvimento do Futebol Feminino da CONMEBOL, se comparado com os anos 2000, o número de adeptas ao esporte cresceu 32% e já é o segundo, em número de atletas, no Brasil. Entretanto, as mulheres ainda enfrentam dificuldades quanto à visibilidade, ao apoio e respeito.

Foi a partir deste contexto que a jornalista Bianca Zafalon teve a ideia de criar, na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM) - da qual é egressa - a Taça Maria Chuteira. “A Maria Chuteira surgiu com o intuito de termos mais visibilidade no campeonato feminino e juntar mais meninas estudantes e ex-alunas da FAPCOM para integrar esse movimento. A ideia sempre foi à união desse grupo que já é pequeno e pouco visto, que dificilmente tem voz e poder de decisão dentro do machismo que acomete o futebol.”, conta a jovem, que também joga futebol e é atacante do Minas F.C., um dos primeiros times femininos formados na instituição.

Em sua estreia, ocorrida em novembro de 2016, a iniciativa contou com seis times, que tinham, em média, dez jogadoras cada. Além disso, toda a organização do evento, bem como a maioria das partidas, foi comandada por mulheres. A estudante de Relações Públicas, Leila Evelyn, também da FAPCOM, auxiliou na produção do campeonato. “Quando a Bianca me chamou fiquei surpresa, nunca imaginei que eu, que sempre vi o futebol de fora do campo, que sempre fui torcedora, teria oportunidade de estar vendo tudo isso de dentro.”, afirma.

Futebol feminino pelo mundo
Confirmando o crescimento da modalidade, levantamento da FIFA e CONMEBOL aponta que mais de 30 milhões de mulheres de todas as idades praticam futebol, sendo 12% crianças e jovens mulheres. Parte desse percentual está presente na FAPCOM, onde já existem, atualmente, nove times amadores formados por alunas e ex-alunas da instituição, com idades entre 18 e 30 anos, que estão desmistificando o significado da expressão Maria Chuteira. “O nome Maria Chuteira foi uma ideia de usarmos esse termo pejorativo para mostrarmos que uma mulher pode sim gostar de futebol e não precisar de um homem que a incentive a isso, que a faça ter vontade de assistir e estar presente. É algo mais relacionado à própria mulher ter suas vontades, liberdades e fazer o que se bem entende.”, explica Bianca.

O preconceito também impede que mulheres ingressem mais cedo no esporte. Segundo dados do Ministério do Esporte, enquanto os meninos têm acesso ao futebol com cinco anos de idade, as meninas só começam a praticar após os 11 anos. Outro retrato que revela a fragilidade da modalidade no Brasil são as histórias como as das jogadoras Cristiane, atacante da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain, e Marta, eleita pela FIFA a melhor jogadora do mundo por cinco vezes consecutivas, mas que só conseguiram tal destaque após sair do país.

Contudo, iniciativas como a Maria Chuteira criam um ambiente mais esperançoso para aquelas que acreditam no potencial do futebol feminino no Brasil e no mundo. Inclusive, a segunda edição da Taça já tem data confirmada. O evento é aberto ao público, está marcado para o dia 06 de maio, e acontecerá no bairro da Pompéia, zona oeste de São Paulo.


*Estudantes do 6º semestre noturno de Jornalismo da FAPCOM
FAPCOMUNICA ONLINE - produção jornalística desenvolvida na disciplina Jornalismo Digital: Práticas Laboratoriais, com supervisão da professora Fernanda Iarossi


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