terça-feira, 16 de maio de 2017

Amor por entre os trilhos

Casais que moram longe encontram no Metrô de São Paulo a escapatória para a solidão diária.

Por Tereza Amabile*

Na cidade onde sete em cada dez paulistanos admitem que se pudessem sairiam da capital, não é difícil de imaginar o quão estressante e corrida é a rotina. Os descontentes, segundo os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (IRBEM), já somam 68% da população. Os números são da pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo, junto com o Ibope, em 2015. Dentre as maiores causas de insatisfação, problemas com o trânsito e o transporte público ocupam o terceiro lugar na lista de reclamações.

Porém, é em meio à pressa contínua que a metrópole abriga, particularmente por entre os trilhos do Metrô, que encontramos o que se canta já não existir. Escondidos por entre as vigas de concreto cinza, durante aqueles (muitos) minutos esperando o trem surgir na plataforma, casais se aninham uns aos outros por alguns instantes até que sigam seus caminhos habituais.

Sentados no chão da estação República, Carina Alencar, 24, e Wiliam de Paula, 26, se encostam timidamente enquanto conversam. Namoram há duas semanas e contam que se encontram lá por ser o lugar mais vantajoso para os dois. Ele mora no Jabaquara, zona sul da cidade, e leva cerca de uma hora e meia para chegar em casa. Ela, na Cidade Tiradentes, extremo leste da capital, e demora duas
horas e meia. Se conheceram no trabalho e desde então se encontram na estação para conversar. “É muito disputado um lugar por aqui! ”, conta Carina sorrindo. No meio de tantos outros casais, ficam mais ou menos três horas juntos por lá, antes de irem para casa.

Sara Aldencio e Wesley Almeida, ambos com 20 anos, se encontram ao lado das escadas rolantes da estação Sé há quase um ano. Contam que por ele morar próximo à Linha Azul e ela à Vermelha, a Sé é a melhor alternativa para se verem. Sara relata que certa vez, enquanto estavam juntos, um rapaz olhou fixamente por muito tempo para ela, o que a incomodou. “Fui lá tirar satisfação com ele, não gosto desse tipo de atitude”, explica. Saem do trabalho e param por cerca de uma hora para se verem e depois também voltam para casa.

Grudados e encolhidos em uma das quinas das escadas fixas da Sé, Lilian Menezes e Felipe Mattos, de 19 anos, contam que tentam sempre se encontrarem lá, nem que seja rapidinho, antes de irem para a faculdade. Ficam geralmente só 20 minutos. Estão nessa rotina desde que estão juntos, há mais ou menos um mês. Moram distantes um do outro, ele em Itaquera, zona leste da cidade, e ela em Itaquaquecetuba, município de São Paulo. Assim, encontraram o Metrô como forma de otimizar o tempo de ambos, para poderem perder um pouquinho de tempo um com o outro.

No outro canto da estação, entretidos com algo no celular, estão Lucas Fernandes, 23, e Estefania Bernardes, 22. Relatam que fazem a mesma faculdade, mas se encontram na estação da Sé depois do trabalho, pois estudam de manhã. Estão juntos há 11 meses e desde sempre tivera o chão do Metrô como forma de passar mais tempo juntos, já que também moram muito longe. Ele sai da Liberdade, na zona central da capital, ela, do Belém, zona leste da cidade, onde ambos trabalham. Se dizem acostumados com a privação que o espaço implica e passam mais ou menos duas horas diariamente por lá. Ao serem questionados sobre alguma história inusitada que já presenciaram na estação, Estefania se adianta e exclama animada: “Ele me pediu em namoro aqui! ”. Fernando sorri e revira os olhos.

Mais boas histórias sobre transporte público em São Paulo em A violência nos dias de jogos.

*Estudante do 4º semestre noturno de Jornalismo da FAPCOM.
Especial Perrengues e alegrias no transporte público de São Paulo na disciplina Redação Jornalística.
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