terça-feira, 30 de maio de 2017

Assédio no metrô

Por Ariel Fernandes e Brenda Diniz*

Um dos cartazes da Campanha do Metrô.

Em meio à Campanha “Você não está Sozinha” do Metrô de São Paulo, que conta com cartazes espalhados em vários pontos dos vagões e estações, os abusos sexuais continuam crescendo. Dados obtidos com exclusividade pelo G1 revelam que houve um aumento de 26%, em comparação ao ano passado, no número de assédios registrados entre janeiro e setembro de 2016.

Em julho deste ano, Carolina**, 22 anos, foi abusada às 8 horas da manhã em seu trajeto rotineiro a caminho do trabalho. Um homem com trajes executivos se  posicionou muito próximo à ela, na estação República, Linha Amarela do Metrô. Quando as portas do vagão  fecharam e o trem passou a se movimentar, o abusador agiu.

Segundo a vítima, de maneira discreta ele passou a se apertar contra ela, que notou a ereção do abusador. Assim que a estudante se deu conta do  que estava acontecendo, paralisou. “Eu tentei olhar
pelo vidro e consegui ver o cara de olhos fechados com a cabeça para cima. Parecia que eu tinha virado pedra”, relata. “Eu estava sozinha, sozinha. Não tinham testemunhas, e quem me garante que ia acontecer alguma coisa com o cara? Não quis me humilhar mais”, desabafa.

O choque que a situação proporciona faz com que a vítima fique sem reação. A jovem estudante, Melissa**, 19 anos, diz ter tido reação semelhante. Desta vez o abuso aconteceu na estação Ana Rosa, Linha Azul do Metrô. Segundo ela, um rapaz que pedia dinheiro dentro do vagão, por meio de bilhetes, a puxou pelo braço no momento em que ela foi devolver o papel. “Eu fiquei em choque, estava no último vagão, que estava vazio, e era domingo à noite”, diz. Horas depois, ainda em seu trajeto para a casa, na estação Sé, um homem sentou ao seu lado no banco de passageiros.“Eu senti algo na minha cintura, ele estava tentando levantar minha blusa”.

Ainda abalada pelo outro abuso, Melissa conta que se sentiu extremamente vulnerável por estar vivendo a mesma situação em um intervalo de minutos tão pequeno, mas dessa vez não se calou. “Eu estava me sentindo péssima por não ter feito nada há minutos atrás, quando percebi aquilo acontecendo de novo, no mesmo dia e praticamente na mesma hora, não consegui ficar quieta. Empurrei, chutei, gritei. Não lembro direito o que fiz, só sei que o cara saiu do vagão quando a porta abriu na próxima estação”. Segundo Melissa, não contar com o apoio dos funcionários do Metrô, ou, ao menos, dos poucos passageiros que presenciaram a cena foi uma das piores coisas. Ela diz não ter pensado em denunciar, pois também estava sozinha e não quis pedir para desconhecidos testemunharem sobre algo tão delicado e que só ela tinha dimensão de como aconteceu.

O Metrô de São Paulo divulga o número (11) 97333-2252 para que os usuários mandem mensagens de texto denunciando qualquer tipo de crime ou infração presenciada, incluindo abusos sexuais. Para as vítimas, o sistema de SMS estabelecido pela campanha “Você não está Sozinha” é ineficiente. 94% dos casos de abuso entre 2011 e 2015 não foram registrados como crime pela Polícia Civil do Estado de São Paulo e sim como “importunação ofensiva ao pudor”, o que configura contravenção com liberação após pagamento de multa, caso o abusador seja identificado, detido e encaminhado ao Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano). Tal fator é um agravante para a descrença das vítimas na política de segurança do Metrô. A especificação da ação como crime ou contravenção vai depender de um conjunto de evidências e pode até requerer testemunhas.

Apenas 23 casos (4% do total) foram registrados como violação sexual mediante fraude e 12 (2%), como estupro. É o que aponta levantamento inédito feito pelo Fiquem Sabendo com base em dados da própria Delpom, obtidos por meio da Lei Federal nº 12.527 (Lei de Acesso à Informação).

**Nomes fictícios a pedido das personagens para não serem expostas.

*Estudante do 4º semestre noturno de Jornalismo da FAPCOM.
Especial Perrengues e alegrias no transporte público de São Paulo na disciplina Redação Jornalística. Leia mais dentro desta série: Trens "abrem vagas" com o desemprego.
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