terça-feira, 2 de maio de 2017

Black Mirror: o melhor e o pior – muito pior – do ser humano

O forte apelo tecnológico da série é pano de fundo para uma reflexão muito mais profunda sobre a psique humana e os caminhos da sociedade pelo futuro

Por Ricardo Ramos*

Com a popularização da plataforma Netflix, filmes e séries tornaram-se uma rotina comum e constante entre os mais diversos públicos, englobando desde os que escolhem suas produções por temas específicos até os ditos “seriemaníacos”, que tentam assistir a tudo o que é lançado de uma vez. Essas e todas as outras categorias de fãs, no entanto, concordam em um determinado ponto específico: Black Mirror é uma série psicologicamente devastadora, com fortes questionamentos e exposições de fatos capazes de deixar até as pessoas mais frias abaladas por um bom tempo.

Não deixe esse personagem aparentemente fofo te enganar.
O que realmente é Black Mirror
À primeira vista, a série parece criticar os rumos e aspectos da tecnologia atual, a falta de privacidade à qual estamos sujeitos nos dias de hoje e os perigos criados por invenções que tinham a proposta inicial de facilitar tarefas e aproximar pessoas.

Essa impressão, apesar de plausível, é superficial, pois a proposta maior apresentada é a capacidade humana de atingir limites inimagináveis – quase sempre, da pior forma possível.

As modernidades tecnológicas são apenas ferramentas que possibilitam a nós, seres humanos, nos expressarmos e expandirmos nossa mente sem amarras, e isso chega a níveis extremamente perigosos quando o uso desses recursos é destinado à manipulação, à banalização do discurso de ódio e ao controle massivo, inconsequente e opressor sob diversas formas – desde (spoilers em seguida) enxergar pessoas mais pobres como insetos até aprisionar a PRÓPRIA CONSCIÊNCIA, com uma espécie de “lavagem cerebral” para que ela obedeça sem questionar e torne a residência de quem realizou o procedimento no lugar mais aconchegante possível, passando por eleger um desenho animado à presidência dos Estados Unidos e hackers sem rosto que colocam as pessoas em um jogo de “siga o mestre” com motivações que mostram uma linha tênue entre fazer justiça, tornar a desgraça em espetáculo e propagação do caos.
Você nunca mais vai ver o “Trollface” da mesma forma depois de assistir um dos episódios...

Como a série diz muito sobre a sociedade
A alta tecnologia apresentada, embora seja impressionante, nada mais é do que um meio utilizado nas ações dos personagens, ou seja, por mais que o maquinário esteja avançado e a resposta seja instantânea, no fim das contas, ainda são humanos que as controlam (ou são controlados por elas para realizar seu manuseio, mas somente porque intenções problemáticas levaram a isso), da mesma maneira que uma arma não é capaz de matar sem que alguém planeje onde mirar e puxe o gatilho.

Em um artigo do jornal The Guardian, o diretor da série, Charlie Brooker, resumiu bem essa relação entre o tecnológico e o “cair do véu” da psique humana: “O ‘espelho negro’ do título é o que você encontrará em todas as paredes, mesas, nas palmas das mão: a fria e brilhante tela de uma TV, um monitor ou um smartphone”, alega Brooker.

Essa modernidade toda apenas expõe exageradamente a que ponto é capaz de chegar alguém que tem uma ambição doentia ou pretende esconder o seu passado.
A busca pela popularidade não é tão inocente quanto aparenta...

A premissa da série, segundo Brooker, é despertar o terror, e isso é alcançado de maneira exemplar. Entre um episódio e outro, a reflexão é necessária para que cada história seja devidamente absorvida, com suas tramas de obsessão, manipulação, insanidade e confronto à ideia de que somos evoluídos. Os conceitos usados remetem ao que sempre esteve ali, o tempo todo – sede de poder, de ser notado, de vingança, enfim, os desejos sepultados no subconsciente em prol de uma melhor convivência com o próximo. “Na série, as pessoas usam a tecnologia para influenciar outras, então nada mais é do que sempre ocorreu desde o princípio da humanidade – pessoas manipulando pessoas”, disse Welington Sousa, estudante de Jornalismo que acompanha Black Mirror desde a primeira temporada.

*Estudante do 6º semestre noturno de Jornalismo da FAPCOM
FAPCOMUNICA ONLINE - produção jornalística desenvolvida na disciplina Jornalismo Digital: Práticas Laboratoriais, com supervisão da professora Fernanda Iarossi
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