sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Lúpus: doença que ataca predominantemente mulheres

No Brasil, a cada um homem, existem nove mulheres com lúpus, de acordo com o Ministério da Saúde

Por Melissa Bernardo

O lúpus é uma doença crônica e autoimune, em que o organismo produz anticorpos contra ele mesmo e ataca os próprios tecidos. A doença acomete predominantemente as mulheres, é pouco conhecida e obter um diagnóstico nem sempre é fácil, pois muitos sintomas são comuns - como dor de cabeça. 

Uma das características mais marcante do lúpus é a erupção malar, uma lesão na pele do rosto conhecida popularmente como “asa de borboleta”. Os demais sintomas variam entre fadiga, dores nas articulações e febre.

Para entender melhor a doença que no Brasil para cada um homem tem nove mulheres afetada, de acordo com o Ministério da Saúde, é necessário explicar que existem dois tipos o lúpus eritematoso sistêmico (LES) e o lúpus discoide. Ambos são considerados imprevisíveis, ou seja, não tem data, nem necessariamente motivo para aparecer e são de difícil diagnóstico, mas possuem distinções. O lúpus eritematoso sistêmico costuma ser diagnosticado com mais frequência do que o discoide e o paciente portador de um dos tipos jamais será portador do outro.

A neuropediatra Christiane Pedreira, 47 anos, formada em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica a diferença entre os dois tipos da doença. “O lúpus discoide é uma lesão de pele, que aparece como algumas manchas avermelhadas, geralmente o paciente procura um dermatologista por não saber a causa daquela lesão, são feitos vários exames e chegam à conclusão de que é um tipo de lúpus. O lúpus eritematoso sistêmico, porém, afeta as articulações, o organismo produz anticorpos contra uma parte da articulação e o paciente passa a sentir uma dor articular, artrite ou poliartrite (inflamação em várias articulações). A lesão da asa de borboleta é característica do LES, mas a maioria dos pacientes diagnosticados não apresenta essa característica. A doença pode manifestar-se de forma lenta ou totalmente agressiva em qualquer um dos casos”, explica.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), estima-se que no Brasil existem cerca de 65.000 pessoas portadoras do lúpus eritematoso sistêmico. Em sua maioria, são mulheres entre 15-45 anos de idade; e uma a cada 1.700 mulheres no Brasil tem lúpus. Partindo desse ponto, a SBR calcula que em uma cidade como São Paulo existam aproximadamente 6.000 pessoas com a doença. Já em homens, a doença é consideravelmente menos diagnosticada, independente da faixa etária.

A merendeira de escola pública na zona Sul de São Paulo, Maria Celia, 57 anos, descobriu o lúpus aos 50. “No início, eu sentia muita dor em todo o meu corpo, me sentia fraca, não tinha forças para levantar, passava muito tempo deitada, só levantava para ir trabalhar. Fui ao médico, tomei os remédios que eles receitaram, mas nada disso ajudava a melhorar as dores. Passaram-se alguns meses e passei com uma reumatologista, fiz os exames que ela pediu e acusou que eu tinha lúpus”, revela.


O diagnóstico é interferido pela falta de uma característica única, o que atrapalha o tratamento, e como resultado ocorre o avanço da doença. Em seus diversos estágios, o lúpus pode aparecer também com a queda de cabelo, problema renal e limitações de movimento. Em alguns casos, podem ser afetados rins, células sanguíneas, cérebro, coração e pulmões.

Segundo a neuropediatra Christiane Pedreira, apesar da doença não ser necessariamente passada de pais para filhos, é estudada a possibilidade de ser uma doença genética. Entre as possibilidades da causa, o estresse também é analisado como possível motivo da patologia, isso é explicado na teoria psicossomática, em que a doença é desencadeada devido algum trauma vivido pelo portador e o seu organismo passa a agir contra si próprio.


Mesmo com todo o otimismo que a rodeia, Maria Célia reagiu com profunda tristeza ao descobrir sobre a nova doença que portava. “Quando descobri o lúpus fiquei muito triste, porque já tenho outros problemas de saúde, mas cada dia é um novo dia, e eu não esmoreço. Trabalho, volto para casa, durmo e acordo pensando que o dia seguinte vai ser melhor”, desabafa.  Na tentativa de melhorias, passou a fazer hidroginástica, que tem resultado na diminuição das dores nas articulares.

Aos 20 anos de idade, a promotora de vendas Walkiria Batista, 41 anos, descobriu a doença, até então pouco conhecia. Os primeiros sinais já não foram assim tão leves, como de praxe. Sua descoberta aconteceu depois de aparecerem os primeiros indícios de erupção malar. “Primeiro aconteceu a vermelhidão, depois apareceram as primeiras epístolas, depois vieram as coceiras, a descamação, sensibilidade a luz, dores de cabeça e dores constantes no rosto e no corpo”, aponta Walkiria.

Com dúvidas e com medo do que poderia se tratar, foi ao departamento médico da Universidade de Santo Amaro (UNISA) - lá o lúpus não foi diagnosticado logo de início, os médicos a princípio sugeriram que fosse rosácea - uma doença de pele comum, cujos sintomas envolvem também a vermelhidão. Após tentativas fracassadas de tratamento contra rosácea e exames mais elaborados, o lúpus, enfim, foi diagnosticado. 

A doença é tratada com medicamentos imunossupressores, como o corticoide, e imunorreguladores. A partir do uso desses tópicos é normal que o corpo sofra algumas alterações, é o que aponta a médica. “Algumas medicações podem acabar deixando o paciente inchado, é o que chamamos de Síndrome de Cushing – Excesso de corticoide”, explica a doutora. Um ponto importante para o sucesso do tratamento é a alimentação equilibrada e saudável, mesmo não havendo restrição alimentar. 



Walkiria revela que teve que se adaptar a algumas mudanças por conta da doença, como por exemplo, evitar exposição ao sol ou às luzes fortes. Ela, que trabalha com a imagem, procura o máximo cuidar de si para que a doença não atrapalhe seu serviço e para isso chega a gastar em torno de R$ 200,00 por bimestre com medicamentos.

A doença que apareceu após o nascimento de sua filha, adormeceu durante anos depois do tratamento. “A ponto de não desconfiar de que de repente ela poderia acordar, mas seis anos depois o lúpus voltou, e com uma intensidade bem maior. O lúpus não tem data para aparecer, quando eu vejo estou com um sinal no rosto, ou dores nas juntas, e nunca sei se a doença voltará novamente ou se só ficará naqueles pequenos sinais”, conta Walkiria.

Para auxiliar no tratamento contra o lúpus, a Associação Brasileira Superando o Lúpus (ASBS) oferece informações para contribuir com o diagnóstico precoce e dá apoio à fim de garantir a qualidade de vida dos que portam a doença. Como principais iniciativas a associação filantrópica proporciona o GRAPE-Lúpus, Quirocupuntura, Coaching, Orientações e Arte Terapia.



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