Com o aumento da taxa de desemprego este ano, brasileiros encontram na
informalidade maneiras de captação de renda
Por Melissa Bernardo
Nos últimos anos, o trabalhador foi diretamente afetado pela instabilidade política, por ela ter
gerado a crise econômica em que o País se encontra. Uma das consequências foi o desemprego, que atingiu 12 milhões de pessoas, fechando o terceiro
trimestre do ano com desocupação de 12%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da leve queda em relação ao
trimestre anterior que apresentou um percentual de 13,6%, ainda se trata de um
número expressivo.
Segundo
dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(DIEESE), só na região metropolitana de São Paulo o percentual de desemprego em
maio de 2017 foi de 18,6%, o que corresponde a 101 mil pessoas que tiveram de deixar seus postos de
trabalho na região ao serem impactados pela crise.
Como
alternativa ao desemprego, as pessoas passaram a buscar renda de alguma outra
forma, na maioria dos casos através da informalidade. Os trabalhadores informais, profissionais que exercem atividades sem registro na carteira, por não possuírem vínculo empregatício, não contam com salário fixo, nem benefícios consolidados por lei como férias;
décimo terceiro; FGTS, entre outros.
Os números
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciam o aumento
do trabalho informal, que explica os 1,4 milhões de brasileiros que saíram da
fila do desemprego em julho deste ano. Cerca de 468 mil pessoas passaram a
trabalhar sem carteira assinada e mais de 350 mil pessoas, por conta própria.
O shopping
trem, como é chamado o comércio ambulante no transporte ferroviário da cidade de São Paulo, tem ganhado força. Apesar de ser proibido, já se tornou rotina
entrar e se deparar com alguém
vendendo balas, chicletes, salgadinhos, fones e até materiais para cozinha dentro dos vagões. Foi
no final do ano passado que Leonardo Junior, de 49 anos, pai de três filhos, se tornou
vendedor ambulante e teve de se adaptar a essa realidade.
Após
ser demitido, Leonardo saiu da frente do volante de ônibus, contra sua vontade,
e começou a andar pelos corredores de trens e metrôs para vender utensílios e
guloseimas aos passageiros. “Eu não tinha a mínima vontade de ir para o
shopping trem, mas as coisas começaram a apertar em casa, e eu não podia deixar
meus filhos passarem fome. Fui fazer uma experiência e já dura há um ano”, relata.
De
acordo com o antropólogo urbano José Guilherme Magnani, essa prática de venda sempre
existiu, só que antigamente ocorria de maneira menos sofisticada. O mercado
cara a cara é uma evolução da troca e do escambo, e é também uma atividade que
se ajustou ao capitalismo e sua evolução.
Monica
Lopes, de 30 anos, fez parte dos 13 milhões de desempregados do início do ano. Demitida
por corte de despesas, encontrou no comércio informal, com venda de acessórios
femininos, um meio de manter a renda e evitar endividamento. A ex-bancária estava há sete meses no emprego. “Não podia ficar sem trabalhar, ajudo
a manter a casa. Então, coloquei em prática uma ideia antiga, a de vender
bolsas, pulseiras, relógios, colares e afins”, conta.
Mesmo
frustrada e preocupada com a demissão, tomou a iniciativa de usar o seu Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como recurso para adquirir os produtos
que posteriormente foram comercializados. Na busca de alavancar o negócio,
ela criou uma página do facebook, a “Moju Acessórios”, para divulgação e
através da página obteve auxiliou na captação de renda.
Tanto
Leonardo, quanto Mônica não têm interesse em viver apenas do comercio informal
para sempre. Na oportunidade, Mônica recentemente arrumou um emprego formal
como representante comercial de uma empresa especializada na oferta de empréstimos, mas pretende continuar com a venda
dos acessórios. “Pretendo continuar como fonte de renda extra, mas preciso de
um tempo maior para investir em divulgação e cobrança”, relata Mônica.
O vendedor ambulante Leonardo continua a procura de um emprego fixo
para garantir ao menos um pouco de estabilidade financeira, mas, enquanto a
oportunidade não aparece, ele segue no transporte ferroviário. “Não é algo que
quero para vida, preciso de estabilidade, quem sabe manter o shopping trem como
renda adicional? Mas não quero terminar de criar meus filhos aqui. As coisas
vão melhorar, tenho certeza!”, diz.
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