segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O trabalho informal como alternativa ao desemprego

Com o aumento da taxa de desemprego este ano, brasileiros encontram na informalidade maneiras de captação de renda

Por Melissa Bernardo

Nos últimos anos, o trabalhador foi diretamente afetado pela instabilidade política, por ela ter gerado a crise econômica em que o País se encontra. Uma das consequências foi o desemprego, que atingiu 12 milhões de pessoas, fechando o terceiro trimestre do ano com desocupação de 12%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da leve queda em relação ao trimestre anterior que apresentou um percentual de 13,6%, ainda se trata de um número expressivo.

Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), só na região metropolitana de São Paulo o percentual de desemprego em maio de 2017 foi de 18,6%,  o que corresponde a 101 mil pessoas que tiveram de deixar seus postos de trabalho na região ao serem impactados pela crise.


Como alternativa ao desemprego, as pessoas passaram a buscar renda de alguma outra forma, na maioria dos casos através da informalidade. Os trabalhadores informais, profissionais que exercem atividades sem registro na carteira, por não possuírem vínculo empregatício, não contam com salário fixo, nem benefícios consolidados por lei como férias; décimo terceiro; FGTS, entre outros.

Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciam o aumento do trabalho informal, que explica os 1,4 milhões de brasileiros que saíram da fila do desemprego em julho deste ano. Cerca de 468 mil pessoas passaram a trabalhar sem carteira assinada e mais de 350 mil pessoas, por conta própria.

O shopping trem, como é chamado o comércio ambulante no transporte ferroviário da cidade de São Paulo, tem ganhado força. Apesar de ser proibido, já se tornou rotina entrar e se deparar com alguém vendendo balas, chicletes, salgadinhos, fones e até materiais para cozinha dentro dos vagões. Foi no final do ano passado que Leonardo Junior, de 49 anos, pai de três filhos, se tornou vendedor ambulante e teve de se adaptar a essa realidade. 

Após ser demitido, Leonardo saiu da frente do volante de ônibus, contra sua vontade, e começou a andar pelos corredores de trens e metrôs para vender utensílios e guloseimas aos passageiros. “Eu não tinha a mínima vontade de ir para o shopping trem, mas as coisas começaram a apertar em casa, e eu não podia deixar meus filhos passarem fome. Fui fazer uma experiência e já dura há um ano”, relata.

De acordo com o antropólogo urbano José Guilherme Magnani, essa prática de venda sempre existiu, só que antigamente ocorria de maneira menos sofisticada. O mercado cara a cara é uma evolução da troca e do escambo, e é também uma atividade que se ajustou ao capitalismo e sua evolução.

Monica Lopes, de 30 anos, fez parte dos 13 milhões de desempregados do início do ano. Demitida por corte de despesas, encontrou no comércio informal, com venda de acessórios femininos, um meio de manter a renda e evitar endividamento. A ex-bancária estava há sete meses no emprego. “Não podia ficar sem trabalhar, ajudo a manter a casa. Então, coloquei em prática uma ideia antiga, a de vender bolsas, pulseiras, relógios, colares e afins”, conta.   

Mesmo frustrada e preocupada com a demissão, tomou a iniciativa de usar o seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como recurso para adquirir os produtos que posteriormente foram comercializados. Na busca de alavancar o negócio, ela criou uma página do facebook, a “Moju Acessórios”, para divulgação e através da página obteve auxiliou na captação de renda.


Tanto Leonardo, quanto Mônica não têm interesse em viver apenas do comercio informal para sempre. Na oportunidade, Mônica recentemente arrumou um emprego formal como representante comercial de uma empresa especializada na oferta de empréstimos, mas pretende continuar com a venda dos acessórios. “Pretendo continuar como fonte de renda extra, mas preciso de um tempo maior para investir em divulgação e cobrança”, relata Mônica.

O vendedor ambulante Leonardo continua a procura de um emprego fixo para garantir ao menos um pouco de estabilidade financeira, mas, enquanto a oportunidade não aparece, ele segue no transporte ferroviário. “Não é algo que quero para vida, preciso de estabilidade, quem sabe manter o shopping trem como renda adicional? Mas não quero terminar de criar meus filhos aqui. As coisas vão melhorar, tenho certeza!”, diz. 

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