Até
onde o futebol europeu pode interferir na paixão do torcedor brasileiro
Por Juliana Patez
Não é necessário andar muito nas
ruas para encontrar alguém vestindo uma camisa de time europeu. As novas
gerações estão sendo cada vez mais dominadas por essa onda que invade a
internet pelas redes sociais e outros meios de comunicação como a TV – seja
pelo canal aberto ou fechado.
Até o “velho” jornal nos últimos
anos começou a dedicar mais espaço ao futebol europeu em suas colunas, algo
incomum em décadas passadas. Mas o que aconteceu para essa mudança na
paixão do brasileiro pelo futebol europeu?
Uma pesquisa recente feita pela
consultoria Ibope/Repucom apontou que, em 2016, 72% dos jovens brasileiros com
idade entre 18 e 29 anos torciam para algum time europeu. Um aumento de 8% em
apenas três anos.
Arte: Juliana Patez
No Brasil, essa geração passou a
ser chamada de “Geração Playstation”: jovens ou recém-saídos da adolescência,
que em sua maioria, cresceram com a TV a cabo e internet em casa, jogando os
mais recentes games de futebol.
Esse movimento, ainda
incompreendido pelos mais velhos ou conservadores, sofre preconceito em muitos
casos.
Para Kenny Anderson, 20 anos,
torcedor do Barcelona desde 2009, de São Paulo as críticas não parecem incomodar. “Eu
acredito que eles pensem dessa maneira porque cresceram assistindo a campeonatos
nacionais em uma época que o futebol brasileiro era superior, então acho seja
normal essa preferência deles. Bom, e quanto as críticas, eu não me importo
muito”, explica.
O estudante Paulo de Faria, 26 anos, torcedor do Everton Football Club, time que hoje ocupa a 16º posição da Premier
League, começou a se interessar pelo clube após a Copa do Mundo de 2014. Morador de São Paulo, lembra de alguns jogadores que foram destaques na Copa e jogavam no Everton. "Depois
que assisti a um jogo deles contra o Wolfsburg (Alemanha), comecei a gostar
muito, ir atrás, acompanhar todos os jogos e foi quando eu percebi que eu
realmente gostava do time. Hoje em dia posso falar que sou um torcedor”, conta.
No caso de Paulo o amor é tanto
que em 2015 ele foi até a Inglaterra, na cidade de Liverpool, para conhecer o
Goodison Park, estádio do clube. “Sempre que penso nesse dia eu lembro que foi
um dia perfeito na minha vida, estar no estádio é totalmente diferente, foi uma
experiência incrível", conta o torcedor dos Toffees.
Imagem: arquivo pessoal
Paulo de Faria em Liverpool, no estádio Goodison Park
Apesar da paixão pelos times de
fora do país, tanto Kenny quanto Paulo torcem também para times nacionais,
Corinthians e São Paulo, respectivamente. Mas o que pode parecer um amor
dividido, o torcedor do time catalão mostra sua preferência: “Difícil, mas em
uma final entre Barcelona e Corinthians, torceria para o Barça”.
Para o palmeirense Raul Ferreira, 26 anos, de São Paulo esse é um sentimento impossível. Fanático pelo time desde os seis anos, o
estudante de Relações Públicas acha triste que essa paixão seja maior do que
pelos times nacionais. “Respeito, claro, mas não
compreendo. Eu já perdi noites de sono por causa do Palmeiras, comemorando
títulos ou lamentando derrotas. Essa não é uma coisa só minha, outras tantas
pessoas que conheço possuem essa relação íntima com o time que torcem. E eu não
acho que seja possível esse sentimento com um time estrangeiro. É como viver um
amor pessoalmente e um pela internet: os dois são possíveis, mas a experiência
de um é mais intensa do que do outro”, explica.
Imagem: arquivo pessoal
Um grande fator que explica esse
desinteresse do brasileiro de acompanhar os times nacionais vem da falta de
visão dos dirigentes dos clubes. Transporte ruim, ingressos absurdamente caros,
filas imensas, além da violência, que ainda hoje é o fator que mais afasta as
famílias dos estádios, contribuem, e muito, para que o favoritismo pelos clubes
internacionais cresça.
“Um pai que recebe um salário
mínimo não pode pagar o ingresso dele e o do filho para ver um jogo, isso
significaria gastar mais de 20% da renda mensal, é impossível. Com o valor de
um ingresso, você paga uma Tv a Cabo. E aí, não tem como competir, na Europa se
encontra os melhores jogadores do mundo”, completa Raul.
Mas parece que nada disso
desanima o palmeirense, mesmo com todos esses empecilhos faz questão de
acompanhar o time de perto. “Eu não sou o tipo de torcedor que gasta metade do
salário com coisas do Palmeiras, mas não perco um jogo, sempre que possível
estou no estádio, corneto os jogadores e treinador nas redes sociais (quando necessário)”, diz.
Paulo compara que, apesar da diferença entre
os povos, por conta da cultura e clima de cada país, as torcidas são muito
apaixonadas pelos seus clubes.
Acompanhar, torcer ou preferir um
time internacional não é nenhum mal. Hoje as equipes europeias estão anos luz
na frente das brasileiras em quase todos aspectos. Dedicar o amor somente ao time
nacional também não o torna errado ou diferente. O futebol brasileiro é o maior
campeão mundial, além de ser um dos principais exportadores de craques.
Em suma, seja nacional ou
internacional, o amor é um só: o futebol. E é esse legado que deve ser passado
em todas as gerações.
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