quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O futuro do futebol nacional e as novas gerações

Até onde o futebol europeu pode interferir na paixão do torcedor brasileiro

Por Juliana Patez

Não é necessário andar muito nas ruas para encontrar alguém vestindo uma camisa de time europeu. As novas gerações estão sendo cada vez mais dominadas por essa onda que invade a internet pelas redes sociais e outros meios de comunicação como a TV – seja pelo canal aberto ou fechado.

Até o “velho” jornal nos últimos anos começou a dedicar mais espaço ao futebol europeu em suas colunas, algo incomum em décadas passadas. Mas o que aconteceu para essa mudança na paixão do brasileiro pelo futebol europeu?

Uma pesquisa recente feita pela consultoria Ibope/Repucom apontou que, em 2016, 72% dos jovens brasileiros com idade entre 18 e 29 anos torciam para algum time europeu. Um aumento de 8% em apenas três anos.

Arte: Juliana Patez 

No Brasil, essa geração passou a ser chamada de “Geração Playstation”: jovens ou recém-saídos da adolescência, que em sua maioria, cresceram com a TV a cabo e internet em casa, jogando os mais recentes games de futebol.

Esse movimento, ainda incompreendido pelos mais velhos ou conservadores, sofre preconceito em muitos casos.

Para Kenny Anderson, 20 anos, torcedor do Barcelona desde 2009, de São Paulo as críticas não parecem incomodar. “Eu acredito que eles pensem dessa maneira porque cresceram assistindo a campeonatos nacionais em uma época que o futebol brasileiro era superior, então acho seja normal essa preferência deles. Bom, e quanto as críticas, eu não me importo muito”, explica.

O estudante Paulo de Faria, 26 anos, torcedor do Everton Football Club, time que hoje ocupa a 16º posição da Premier League, começou a se interessar pelo clube após a Copa do Mundo de 2014. Morador de São Paulo, lembra de alguns jogadores que foram destaques na Copa e jogavam no Everton. "Depois que assisti a um jogo deles contra o Wolfsburg (Alemanha), comecei a gostar muito, ir atrás, acompanhar todos os jogos e foi quando eu percebi que eu realmente gostava do time. Hoje em dia posso falar que sou um torcedor”, conta.

No caso de Paulo o amor é tanto que em 2015 ele foi até a Inglaterra, na cidade de Liverpool, para conhecer o Goodison Park, estádio do clube. “Sempre que penso nesse dia eu lembro que foi um dia perfeito na minha vida, estar no estádio é totalmente diferente, foi uma experiência incrível", conta o torcedor dos Toffees.

Imagem: arquivo pessoal
Paulo de Faria em Liverpool, no estádio Goodison Park

Apesar da paixão pelos times de fora do país, tanto Kenny quanto Paulo torcem também para times nacionais, Corinthians e São Paulo, respectivamente. Mas o que pode parecer um amor dividido, o torcedor do time catalão mostra sua preferência: “Difícil, mas em uma final entre Barcelona e Corinthians, torceria para o Barça”.

Para o palmeirense Raul Ferreira, 26 anos, de São Paulo esse é um sentimento impossível. Fanático pelo time desde os seis anos, o estudante de Relações Públicas acha triste que essa paixão seja maior do que pelos times nacionais. “Respeito, claro, mas não compreendo. Eu já perdi noites de sono por causa do Palmeiras, comemorando títulos ou lamentando derrotas. Essa não é uma coisa só minha, outras tantas pessoas que conheço possuem essa relação íntima com o time que torcem. E eu não acho que seja possível esse sentimento com um time estrangeiro. É como viver um amor pessoalmente e um pela internet: os dois são possíveis, mas a experiência de um é mais intensa do que do outro”, explica.

                                Imagem: arquivo pessoal

Um grande fator que explica esse desinteresse do brasileiro de acompanhar os times nacionais vem da falta de visão dos dirigentes dos clubes. Transporte ruim, ingressos absurdamente caros, filas imensas, além da violência, que ainda hoje é o fator que mais afasta as famílias dos estádios, contribuem, e muito, para que o favoritismo pelos clubes internacionais cresça.

“Um pai que recebe um salário mínimo não pode pagar o ingresso dele e o do filho para ver um jogo, isso significaria gastar mais de 20% da renda mensal, é impossível. Com o valor de um ingresso, você paga uma Tv a Cabo. E aí, não tem como competir, na Europa se encontra os melhores jogadores do mundo”, completa Raul.

Mas parece que nada disso desanima o palmeirense, mesmo com todos esses empecilhos faz questão de acompanhar o time de perto. “Eu não sou o tipo de torcedor que gasta metade do salário com coisas do Palmeiras, mas não perco um jogo, sempre que possível estou no estádio, corneto os jogadores e treinador nas redes sociais (quando necessário)”, diz.

Paulo compara que, apesar da diferença entre os povos, por conta da cultura e clima de cada país, as torcidas são muito apaixonadas pelos seus clubes.



Acompanhar, torcer ou preferir um time internacional não é nenhum mal. Hoje as equipes europeias estão anos luz na frente das brasileiras em quase todos aspectos. Dedicar o amor somente ao time nacional também não o torna errado ou diferente. O futebol brasileiro é o maior campeão mundial, além de ser um dos principais exportadores de craques.

Em suma, seja nacional ou internacional, o amor é um só: o futebol. E é esse legado que deve ser passado em todas as gerações.

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